Chaves e sua imoralidade

Sou fã incondicional de Chaves e Chapolim. Os assisto desde que me conheço por gente. Quando era criança, antes de começar a desenvolver pensamento crítico, eu ria de suas piadas com a "inocência" típica dessa época da vida. Então, o tempo passou, minha idolatria aos dois seriados permaneceu forte e constante. Mas, paralelo a ela, também comecei a perceber que não são obras perfeitas, principalmente por serem baseadas em "humor" (ao outro) ofensivo, com direito a muitas piadas preconceituosas de (quase*) todos os tipos: gordofóbicas, homofóbicas, especistas, misóginas, capacitistas...

* Faltaram piadas, pra variar, sobre homens heterossexuais, pessoas "normais"...

No entanto, tem muita gente que classifica Chaves e Chapolim como atrações "sem imoralidade", para "toda família". Inclusive, adoram dizer isso em comentários de vídeos disponíveis no YouTube. A maioria daqueles que não vêem nenhum potencial desses seriados de ensinarem "maldades", são de "conservadores", aquele tipo que tende a apresentar um nível mediano de discernimento moral, de capacidade de diferenciar o "certo" do "errado", de analisar e julgar mais profunda e precisamente suas ações e as dos outros. Pois, mesmo eu, que sou fã de longa data (admito o meu fanatismo), não posso concordar com essa classificação "livre" de censura, porque tenho o relato de um episódio lamentável em que participei, para comprovar porque Chaves e Chapolin não poderiam ser absolutamente liberados para assistir, especialmente para as crianças.

Vamos a ele

Ensinando gordofobia...

Tem um episódio do Chaves em que todos estão confraternizando na casa da dona Florinda (bolsominion clássica), provavelmente pelo dia de São Valentim (não tenho certeza). Então, em um certo momento, os adultos pegam champanhe, se servem e se sentam para beber, menos o Seu Barriga. Ele é o último a sentar e, na hora em que o faz, todos pulam do sofá pelo impulso da ação, isto é, fazendo referência debochada ao seu sobrepeso.

A vida imitando a arte??

Pois teve um dia na escola (acho que, na sexta série do velho ensino fundamental) em que a professora de inglês, jovem, gordinha e substituta de uma professora anterior (muito querida pela turma), de nome Linda, chegou na minha classe para dar aula e, quando se sentou na cadeira, quase todos se levantaram rapidamente, inclusive eu, porque tínhamos decidido armar uma "brincadeira" de mal gosto, imitando esse episódio do Chaves. Na hora, rimos muito da situação e dela, que ficou sem graça, com vergonha, lá na frente. Mais tarde, ficamos sabendo que ela chegou a chorar na sala dos professores por causa da humilhação que sofreu.

Bem...

Foi graças ao cândido Chaves que praticamos esse ato de crueldade contra uma pessoa inocente que nem conhecíamos. Isso definitivamente não foi legal.

Pra você ver que, de imoralidades, Chaves e Chapolim estão cheios.

Não, não tem "beijo gay" (ainda que tenha um episódio inteiro de homofobia descarada, sem falar das piadas homofóbicas em outros episódios, geralmente ditas pelo Seu Madruga).

Não tem apologia explícita a sexo (ainda que tenham umas piadas meio estranhas). Claro que estou dando exemplos de supostas imoralidades segundo a mentalidade dessa gente.

Mas tem muitos episódios (talvez, em quase todos) em que "coisas erradas" são ensinadas como se fossem "legais". Eu poderia ficar aqui citando vários outros exemplos.

Como conclusão, eu sei que Chaves e Chapolim estarão para "sempre" no meu coração . Mas também sei que são seriados datados, que nos incentivam a sermos irracionalmente preconceituosos, de agirmos com crueldade uns com os outros. Podemos assisti-los, inclusive com vários episódios que ensinam boas lições, mas sabendo que, especialmente por causa do seu humor outro-ofensivo, não estão totalmente desprovidos de "imoralidades", tal como muitos pensam.

Mais um Thiago
Enviado por Mais um Thiago em 25/10/2021
Reeditado em 17/02/2024
Código do texto: T7371315
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