Uma revelação sobre "O elo perdido"
Ultimamente venho elaborando o guia de episódios do seriado norte-americano "The last land" (A terra perdida), que no Brasil ganhou o título meio equivocado de "O elo perdido", que parece mais uma referência à teoria da evolução.
Pois bem. No disco 1 da primeira temporada (o boxe tem três discos) nos extras há três episódios comentados. Isso, creio, surgiu com os devedes. Trata-se de passar um filme ou episódio, isto é, as imagens, mas o som original não aparece de todo, pois há um áudio com uma ou mais pessoas comentando, revelando coisas dos bastidores.
Então o episódio 2, quando pela primeira vez aparecem os reptilianos "sleestaks", é comentado pelo roteirista e editor David Gerrold, uns trinta anos após a filmagem em 1974.
Gerrold, algo decepcionado, revela algo até então desconhecido pelo público: para uma cena em que Will e Holly se encontravam em grande perigo, a garota perguntou ao irmão no roteiro original: "Will, você alguma vez já rezou?" Ele responde: "Algumas vezes." E ela: "Ajuda?" Resposta de Will: "Às vezes".
Como se vê, uma defesa até muito tímida e quase envergonhada, como que hesitante, da fé e religiosidade. Mesmo assim as quatro linhas foram cortadas no diálogo.
David observa que este simples diálogo já mostraria que as crianças foram criadas em um lar muito religioso, cresceram "diante de uma antiga tradição". E num significativo desabafo o roteirista acrescenta: "Sabia que as palavras seriam cortadas mas estava cansado das pessoas, na televisão, não terem fé". "Estava cansado dos roteiros serem não digo ateistas, mas moral ou filosoficamente ou eticamente deficientes." "Estava cansado das pessoas não terem o espírito filosófico do ser."
Eu fico pensando: como é triste que David Gerrold tenha esperado 30 anos por uma oportunidade de se manifestar. É verdade, em grande parte, mesmo em produções inocentes e de teor conservador, com valores de família, o cinema norte-americano carrega esse tabu, não se fala em Deus, em religião, ninguém reza, ainda que se comportem de maneira cristã como o trio familiar de "The lost land". Esse materialismo prático num pais de tanta tradição religiosa como os Estados Unidos foi aos poucos solapando a moral nacional. Hoje, certamente, o abandono dos valores tradicionais está muito mais avançado. Curiosamente no Japão os personagens ainda rezam, ainda têm espiritualidade explícita, ainda falam em Deus.
O diálogo cortado era tenuamente religioso e mesmo assim foi cortado. O que causa, nos produtores, esse "pudor" de falar em religião, fé e em Deus? Agradar o espírito do mundo?
Não creio que haja justificativa possível.
(Série produzida nos anos 70 por Sid e Marty Croft)
Ultimamente venho elaborando o guia de episódios do seriado norte-americano "The last land" (A terra perdida), que no Brasil ganhou o título meio equivocado de "O elo perdido", que parece mais uma referência à teoria da evolução.
Pois bem. No disco 1 da primeira temporada (o boxe tem três discos) nos extras há três episódios comentados. Isso, creio, surgiu com os devedes. Trata-se de passar um filme ou episódio, isto é, as imagens, mas o som original não aparece de todo, pois há um áudio com uma ou mais pessoas comentando, revelando coisas dos bastidores.
Então o episódio 2, quando pela primeira vez aparecem os reptilianos "sleestaks", é comentado pelo roteirista e editor David Gerrold, uns trinta anos após a filmagem em 1974.
Gerrold, algo decepcionado, revela algo até então desconhecido pelo público: para uma cena em que Will e Holly se encontravam em grande perigo, a garota perguntou ao irmão no roteiro original: "Will, você alguma vez já rezou?" Ele responde: "Algumas vezes." E ela: "Ajuda?" Resposta de Will: "Às vezes".
Como se vê, uma defesa até muito tímida e quase envergonhada, como que hesitante, da fé e religiosidade. Mesmo assim as quatro linhas foram cortadas no diálogo.
David observa que este simples diálogo já mostraria que as crianças foram criadas em um lar muito religioso, cresceram "diante de uma antiga tradição". E num significativo desabafo o roteirista acrescenta: "Sabia que as palavras seriam cortadas mas estava cansado das pessoas, na televisão, não terem fé". "Estava cansado dos roteiros serem não digo ateistas, mas moral ou filosoficamente ou eticamente deficientes." "Estava cansado das pessoas não terem o espírito filosófico do ser."
Eu fico pensando: como é triste que David Gerrold tenha esperado 30 anos por uma oportunidade de se manifestar. É verdade, em grande parte, mesmo em produções inocentes e de teor conservador, com valores de família, o cinema norte-americano carrega esse tabu, não se fala em Deus, em religião, ninguém reza, ainda que se comportem de maneira cristã como o trio familiar de "The lost land". Esse materialismo prático num pais de tanta tradição religiosa como os Estados Unidos foi aos poucos solapando a moral nacional. Hoje, certamente, o abandono dos valores tradicionais está muito mais avançado. Curiosamente no Japão os personagens ainda rezam, ainda têm espiritualidade explícita, ainda falam em Deus.
O diálogo cortado era tenuamente religioso e mesmo assim foi cortado. O que causa, nos produtores, esse "pudor" de falar em religião, fé e em Deus? Agradar o espírito do mundo?
Não creio que haja justificativa possível.
(Série produzida nos anos 70 por Sid e Marty Croft)