sem adeus
Eis que agora, talvez, tardiamente, antevejo, nos olhos moribundos do assassino, o liminar de um pedido de perdão. Porém, e sem peia de alguma solicitude que possa eu, ainda que em contrário ao que entendo ser o merecido, devo admitir: o sujeito, nefasto em toda sua existência, não merece, ao menos, me parece, ser agraciado com a honrosa benevolência destinada aos justos.
Afinal, e despido de qualquer sinal, mínimo que fosse, de bondade e respeito pela dor do Outro, o sicofanta, em tudo, e por tudo, nú de sentimento humano, o nefasto se enaltecia em toda sua insignificância. Aliás, sob pena de se cometer o injusto ato de reconhecer ser o biltre digno de qualquer consideração, e, com isso, ser injusto com àquele que dignifica a espécie humana.
Do que se depreende, e não há meios de indicar outra direção, que honrar o nefando com a mão amiga do perdão, é esgarçar o significado primoroso da palavra e toda carga simbólica que ela traz.
Daí, e não há porquê ser de outra maneira, que estender a mão amiga a quem ignora o que isso signifique, não será ato de benevolência, tampouco, expressão sublime do que torna o ato humano como a marca diferencial de outros animais. Até porquê, mesmo no reino animal se possa encontrar atos genuínos de companheirismo e proteção. Não é caso aplicável ao biltre e sicofanta.
Por fim, meus caros, nada mais resta, senão e apenas, patentear que o sacripanta, que parece suplicar perdão – posto que moribundo -, não sabemos se o faz com sinceras súplicas, daí, porque, todos sabem, o nefando nunca soube o real significado dessa palavra.
E o esquife seguiu ladeira abaixo, sem acompanhamento, sem lágrimas, sem adeus.