Sobre dois tipos de ateus

Deus/eternidade

Tem aquele ateu que só não acredita na existência de Deus e ponto. Inclusive eu o apelidei de ateu mundano ou materialista. Por causa disso, ele está em maior risco de crer e defender outras alienações: capitalismo, supremacia racial, especismo, classismo... porque a descrença apenas sobre a existência de Deus é autolimitante, além de não focar no mais importante, que é a muito improvável existência da eternidade, se mesmo aqueles que creem nele, o fazem pensando no que supostamente oferece: proteção na "vida terrena" e eternidade cinco-estrelas no paraíso, depois da morte ou na "vida eterna".

Também tem o ateu mais existencialista, do tipo que enfatiza a sua descrença na Eternidade e não em deus. Aí, não é apenas a inexistência de divindades que lhe importa, porque a descrença na vida eterna pode fazê-lo pensar e concluir (realisticamente) que, somos todos (essencialmente) iguais, por sermos seres humanos/seres vivos, frágeis/pequenos diante da imensidão e condenados ao mesmo destino, de ter um fim. A sua aceitação desta verdade tão profunda também pode fazê-lo endossar a luta pela justiça social/existencial: fim ou grande redução das desigualdades sociais, da exploração econômica, da opressão contra minorias, da crueldade contra animais...

(Claro que, nesse espectro proposto, também encontraremos ateus meio mundanos/materialistas ou meio existencialistas. Aliás, acho até que são os mais comuns).

Parece fácil concluir que o ateu existencialista é mais maduro que o mundano/materialista, justamente por ser mais hiperrealista ou consciente sobre as "verdades absolutas", sobre o que mais importa. No entanto, dependendo do seu nível de maturidade filosófica, ele também pode estar em maior risco de se alienar sobre outras verdades importantes, mais terrenas, por exemplo, se passa a negar a existência de diferenças intrínsecas ou biologicamente determinadas entre indivíduos e grupos, ao focar excessivamente na perspectiva existencial, tendo a igualdade universal como único parâmetro de análise. Desta maneira, ele pode acabar se tornando indefeso em relação aos numerosos humanos que não conseguem aceitar as verdades existenciais em suas vidas e que, portanto, se comportam a partir de uma mentalidade de cadeia alimentar, com egoísmo, competição...

Por isso que, a verdadeira iluminação filosófica, que é a lucidez ou a sanidade máxima que podemos alcançar, só realmente acontece quando o indivíduo humano aprende a nunca negar uma verdade: priorizando as existenciais e sem desprezar as mais mundanas ou terrenas.