VIDA QUE SEGUE

Estou de volta à Pium, Tocantins.

Desta vez vim de carro. Vinte e uma hora de viagem, em dois dias. Sou fraco.

Hoje andei pela cidade, pelos bairros, devagar. Quero compreender este lugar.

Um sentimento domina minha mente enquanto passeio... Pium é surreal !!

Passo pelo cemitério, aqui lugar central, em frente ao Palácio do Executivo (prefeitura) e do Palácio da Cidadania, nome este que deram à Câmara do Vereadores.

São palácios mesmo, na fiel expressão do termo. Prédios soberbos, rodeado de estátuas de ilustres desconhecidos e melhor jardinagem.

Em cada esquina vasos enormes, aparentemente caríssimos, com plantas vadias.

O cemitério... oh, o cemitério!... é murado com altura de três metros e com muitos arcos que aparentam granito. Aparentam não, fui conferir, arcos de granitos e o muro nesse espaço, de mármore bege, maravilhoso. No centro de cada arco um quadro em cerâmica belíssima e protegida por vidro grosso. Representam figuras bíblicas, especificamente a "Paixão de Cristo". Nem Nova York possui um cemitério igual ao de Pium.

Quisera eu poder reproduzir neste texto uma foto do lugar. Creio que só assim acreditariam.

A fixação dos prefeitos do interior do Brasil em construirem belíssimos cemitérios é algo que requer estudo aprofundado por parte de algum psicanalista ou renomado estudioso social.

Dentro deste campo santo (construído por despossuídos de santidade), sepulturas no chão de terra, monticulos cobertos por carrapichos e demarcados por cruz de madeira, em decomposição, onde já se perderam os nomes e as datas de uma existência vazia e quase inútil. Pessoas que cumpriram apenas um mandamento: "crescer e multiplicar".

Penso que a fortuna que gastaram no cemitério poderia ter sido direcionada a ensino profissionaluzante e empreendorismo.

O restante da cidade é dividida entre moradias no estilo "Goiás Velho". Casas pequenas, baixas, rentres umas as outras, com portas de entrada e janelas dos quartos que dao para a o calçamento e a rua. Casas pintadas por cores fortes: azul, vermelho, amarelo, numa formação bonita de se ver e fotografar. As demais habitações da cidade são casebres igualmente baixos, de blocos vermelho, a maioria sem reboco, com quintais cheios de matos rasteiros e galinhas.

O lugar é muito pobre.

Além de pecuária de baixa rentabilidade e lavouras de sustento, não há nenhum emprego.

Minto. Há empregos do Estado. Funcionários públicos municipais, estaduais e da União.

Serventias de baixa remuneração.

Os homens em boa idade, instrução e capacidade de trabalho estão distantes: em Palmas, Gurupi e ao redor da Rodovia Transbrasiliana ou no outrora sul maravilha.

De sorte que quase não há comércio.

Até onde descobri há uma padaria que não tem pão e uma agência bancária (pasmem !) que não tem dinheiro. Aceita apenas depósitos. Saques são feitos no comércio incipiente, que mantêm convênio com bancos; inclusive aposentadorias.

Três ou quatro pequenos mercadinhos vendem produtos essenciais.

E só.

Durante o dia mulheres, crianças e cachorros, morgam em cadeiras plantadas debaixo das sombras, de onde levantam, de quando em quando, para tomarem um gole d'água.

Outro sentimento vem em mim: medo.

Me veio a impressão que Pium não é uma cidade estacionada no passado.

É a imagem do Brasil do futuro.

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Obrigado pela leitura.