O caso do menino Henry Borel: o que devemos aprender
A nossa cultura judaico-cristã sempre colocou os pais como figuras sagradas e de autoridade, enfatizando que devemos nos espelhar na família de Jesus Cristo, composta por Maria, José e Jesus. Entretanto, a realidade mostra muito bem que há diversos casos de famílias disfuncionais que estão muito longe de corresponder ao ideal da Sagrada Família ou ao das famílias de comercial de margarina, em que vemos todos os membros da família felizes e sorridentes, reunidos durante as refeições.
Ninguém gosta de acreditar que haja pais capazes de ser perversos com os próprios filhos porque se prefere acreditar que os pais são seres dotados de amor incondicional e fazem tudo por amor. Mas casos como o do menino Henry Borel e da menina Isabela Nardoni além de tantos outros precisam nos alertar para uma dura realidade: a de que há muitas crianças sofrendo maus-tratos e negligência por parte de seus genitores. As famílias disfuncionais são muito mais comuns do que queremos admitir. Todavia, nossa cultura patriarcal costuma dar razão aos pais e é frequente que não se ouça a criança quando ela se queixa a terceiros. O mais comum é que os terceiros justifiquem as atitudes dos pais.
Caso uma criança ou jovem reclame que os pais a “prendem demais”, certamente ouvirá que os pais agem assim por amor, para proteger. E pais opressores costumam recorrer à desculpa de que estão corrigindo e educando. Porém, é necessário que entendamos que há um limite entre uma justa ação punitiva e atos abusivos. Há pais que cometem verdadeiros atos invasivos como entrar no quarto dos filhos sem permissão, abrir suas mochilas, fazer chantagem emocional, ameaças e até espancamentos com a justificativa de que estão “educando”. Muitos adultos que passaram por essas situações hoje reconhecem que o que os pais faziam para “corrigi-los” e “orientá-los” não passava de mera invasão de espaço.
Entre os pais que são capazes de tornar a vida dos filhos um verdadeiro inferno estão os pais narcisistas, que, como o próprio nome do transtorno diz, adoram se colocar no centro de tudo e tratam os outros como simples marionetes. Um pai ou mãe narcisista é incapaz de ter empatia e nunca tratará os filhos como seres que têm direito a ser amados e respeitados. Eles xingam, humilham e fazem tais filhos passarem situações constrangedoras até na frente de pessoas de fora.
Assim, que casos tristes como o de Henry Borel e Isabela Nardoni nos sirvam de lição. Neste momento, quantas crianças não estão sendo maltratadas, ouvindo que não valem nada, sofrendo abusos físicos e até sexual por parte dos que deveriam protege-las e amá-las? Vamos dar atenção às crianças. Pais não são figuras sagradas, são seres humanos e cometem erros. E muitos são sim capazes de atos monstruosos para com os filhos.