Desabafo

Entretanto, meu amigo, e sem irromper em demasiada e desnecessária contenda, não posso me calar quando os fatos sobejam

às pencas. Não se nega a desfaçatez com que o magno dirigente, debitario de um mínimo civilizatório, se digne a expressar tantas vilanias. Não há como concordar - mesmo com amparo do mais benevolente dos deuses, como, talvez, diria um grego na Ágora - que as palavras do excelso dirigente represente o império da razão. Nesse sentido, não se pode negar: as palavras, quando pronunciadas, como Hermes, percorrem o espaço numa velocidade divina. Assim, uma vez dita, a palavra se registra e adquire efeitos sentenciosos. Por isso, não há salvaguarda a nenhum Homem, por mais poderoso que seja, a permissão de pronunciamentos em conflito direto com a vida. Quem assim procede, - sob pena de negar o marco civilizatório a que nos submetemos em oposição ao restante dos outros animais- deve responder pelos seus atos. Responsabilizar quem se desvia desse limite, com falsos argumentos de "minha liberdade de expressão" , primeiro, ignora que o direito de um só se valida com o direito do outro. Liberdade de expressão não é ter o direito de aniquilar o Outro. Isso é autoritarismo. Segundo, liberdade de expressão se qualifica num marco pautado pela tolerância, respeito e compreensão das opiniões opostas. Um discurso isento de contraponto, por sua próprio natureza, ou seja, que desconsidera o contrário, é dogma. Enfim, a vida só se justifica se, e só assim, considerar os opostos. Somos humanos, demasiados humanos, sujeitos a erros, sim, mas capacitados para corrigi-los.