A ORIGEM DA FEBRE DOS IMPORTADOS
A ORIGEM DA FEBRE DOS IMPORTADOS
Afirmam os economistas que uma nação deve sempre sustentar o seu equilíbrio econômico sobre os alicerces do desempenho da sua balança comercial. É esse desempenho que, obviamente, resultará em "superávit", termo importado do latim, cujo significado quer dizer: excedente às despesas, saldo ou simplesmente lucro. Mas seria ingenuidade pensar que um país, mesmo que conseguisse produzir todos os bens e produtos dos quais tem necessidade, poderia se tornar autônomo. Isto porque, se financeiramente esta autonomia poderia lhe render uma independência, politicamente, a mesma pode não ser interessante.
Também os psicólogos afirmam que, em um indivíduo de sã consciência, o equilíbrio emocional deve ser sustentado pela satisfação de suas necessidades básicas. Sejam essas necessidades biológicas, afetivas ou sociais. Nesse aspecto, é preciso saber dosar os estados: emoção e razão, para não confundir necessidades básicas por desejos. Sobretudo porque o contraste entre estes dois pólos, que às vezes se revela nas pequeninas coisas, pode gerar confusão a ponto de estabelecer um desequilíbrio. Porém, quando essas manifestações pertinentes ao comportamento do ser humano se manifestam, somente a reflexão poderá trazer um discernimento e mostrar o melhor caminho a tomar.
Nesse contexto, vejamos o que aconteceu com os inúmeros produtos importados que a televisão mostrou em seu noticiário um dia desses na alfândega de um famoso aeroporto internacional do Brasil. Na esteira da espera, além de computadores e bijuterias, estavam também centenas de outras caixas contendo roupas, frutas, bolos , doces e outras tantas guloseimas. Estas, que em conseqüência da avalanche, lotavam os galpões e até o pátio, já se encontravam deterioradas pelo tempo de permanência aguardando a liberação.
Daí, concluímos que, esta febre de consumismo que assola o País e congestiona inclusive os galpões e pátios, não começou hoje. Avolumou-se sim com a oportunista abertura da importação, cuja finalidade era trazer a queda no preço de algum produto de mercado interno para com isso beneficiar o consumidor brasileiro.
Historicamente, esta febre teve a sua origem lá na época do descobrimento quando Cabral aqui aportou. Época em que os indígenas, ingenuamente, aceitaram estreitar as relações comerciais trocando seus produtos. Sem perceberem, sufocados pela febre do desejo, caíram na armadilha da dominação estrangeira e desfizeram-se de todas as suas divisas. Acabaram trocando todas as suas riquezas por um punhado de quinquilharias.
E todas aquelas riquezas tinham apenas um nome: chamava-se CULTURA.
(Osvaldo Resquetti, 24/12/94)