Lembrei-me

Lembrei-me dos tempos que se foram.

Dos tempos em que a capulana falava o dialecto,

Dos tempos em que a inteligência estava com o esperto,

Dos tempos em que a enfermidade temia o sem teto.

Lembrei-me ainda da Cabra-cega,

Da cintura que movia como as ondas na xibotela,

Das noites de fogueira com a minha avó,

Do xirico que me via dançar sem dó.

Lembrei-me das palmadas do meu professor,

Que hoje me transformara em doutor.

Lembrei-me da mangueira, minha sala!

Lembrei-me ainda do saco, minha carteira!

Lembrei-me do milho torado ao amanhecer,

Do quotidiano, da mandioca e da batata-doce.

Lembrei-me do comboio que se movia nos nossos passos,

Da alegria contagiante do nosso contacto.

Lembrei-me, lembrei-me do som de Utsé que as mamanas contagiavam,

Do ritmo sincronizado das palmas e da alegria dos pés.

Lembrei-me sim da minha aldeia,

Onde o doce e o amargo nos rodeiam.

Luís Lopes
Enviado por Luís Lopes em 25/10/2020
Código do texto: T7095698
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.