Empatia e atenção aos detalhes

Meu pai tem o hábito de deitar no chão da sala de estar aqui de casa depois do almoço e de acender um cigarro enquanto descansa. Do lado da sala, fica o meu quarto. Teve um sábado que, depois do almoço, ele foi para o chão da sala, como de costume, depois de eu ter ido deitar no meu quarto. Ele deitou, acendeu o cigarro e começou a fumar. Ele não percebeu que eu estava dentro do quarto, não buscou saber se eu estava lá. Claro que a fumaça do cigarro chegou até o meu quarto e claro que isso me incomodou. Não estou condenando o meu pai, sugerindo que seja uma pessoa excessivamente egoísta e insensível que eu sei muito bem que não é. Mas, se eu me comparo com ele, que é um típico homem heterossexual cujas forças estão mais em suas habilidades espaciais que emocionais, é inevitável perceber que nos diferimos de maneira mais pronunciada em empatia, especialmente na atenção aos detalhes de interação do momento ou redor. Por exemplo, se eu fosse o meu pai, na situação exemplificada, eu poderia ter ido para um quarto, apagado o cigarro ou mesmo mudado de posição pensando em alterar a trajetória da fumaça. Enquanto que ele se limitou a agir de maneira pragmática e desatenta aos detalhes ao seu redor (inclusive eu, rs), eu pensei na situação, refleti sobre as suas atitudes e as que eu poderia tomar e que acabei tomando (encostei a porta do quarto e liguei o ventilador). Eu também me coloquei no lugar do meu pai para tentar entender por/que não prestou atenção aos detalhes naquela situação comigo. Sei que é frequentemente desatento, mais do que ele mesmo admite. Eu penso que, o que eu não quero pra ele, por exemplo, incomodá-lo enquanto descansa, também não deveria querer pra mim. Até parece que nós, que somos mais empáticos, temos uma consciência mais periférica que autocentrada, se temos como hábito constante de considerar o que está em torno, em nossas abordagens.

Esse é um exemplo trivial para mostrar como que a empatia se relaciona com a nossa capacidade de prestar atenção aos detalhes nas situações que vivenciamos no cotidiano e sua importância instrumental para o melhor julgamento (moral) em nossas abordagens.