A Articulação do Texto
Por Leon Cardoso da Silva
É indubitável ter em mente que um texto é um todo que se constitui de partes elementares e inerentes em toda a sua capacidade de exposição. Ora, posto que há uma espécie de conexão – ou deva haver – entre suas partes de forma a possibilitar uma consonância entre as grandezas de ordem sintática e semântica, se faz necessário que haja uma preocupação no que se refere ao processo de sua articulação. Cabe dizer, portanto, que para que haja um bom entendimento é relevante que se estabeleça uma ligação precípua entre texto e contexto.
Busca-se com freqüência elementos que em muitos casos preenchem certas necessidades de compreensão uma vez que há catadupas de possibilidades que se infere quando se analisa apenas as partes isoladas do texto. Este é um dos principais fatores que por sua vez faz com que a Lingüística assuma papéis relevantes no âmbito da comunicação nas sociedades. Vem ela, já há algum tempo, insistindo na observação da situação comunicativa julgando-a necessária para a compreensão do texto. Quer ela dizer, em outras palavras, que deve haver uma relação pertinente entre texto e contexto para a definitiva compreensão fidedigna e incólume como um todo.
É bem aceitável que pensemos a linguagem como algo separado do referente. Caberia ao texto a função primordial de articular uma ligação entre essas duas partes. Concebemos assim – e não poderia deixar de ser – a existência do que pode ser tido como referentes textuais e situacionais. Os primeiros representam o que de fato há no interior do texto como ponto de partida para a compreensão de suas partes. Estes últimos como fatos extralingüísticos sintetizando e enriquecendo a compreensão.
O texto tido como objeto de estudo envolve relações reflexivas inseparáveis da forma e do conteúdo. Partido do pressuposto de que a palavra “texto” admite uma conceitualização pode-se dizer que ele pode ser definido como um enunciado extenso ou curto, oral ou escrito. Pode ser tanto uma frase quanto um verso, um romance e até mesmo uma expressão, isto é, uma palavra-frase num determinado contexto.
Há dessa forma distintos e variados números de textos. Podemos fazer uma breve enumeração de acordo com as suas finalidades. Assim pode ser dito que há os que têm o objetivo de expor idéias (filosófico), juízos (crítico), e entre outros também os que valorizam as palavras e as expressões (literário).
De um todo o texto nunca pode estar separado do objetivo da significação. Expor informações seria a sua característica primordial uma vez que ele não é apenas uma simples sucessão de palavras, frases e orações. Há de fato os elementos temáticos de relações lógicas e de redundância que corroboram esta preponderante necessidade. Eis o que deve ser levado em conta para um melhor esclarecimento do que deva ser dito sobre a articulação de elementos temáticos.
Quanto a sua estrutura não é possível que se descarte a coesão e a coerência. De fato, a concatenação e a clareza das idéias permitem-nos interpretar com mais prioridade um determinado enredo. Há elementos condicionantes como há também procedimentos de estabilização e de integração dos lexemas. Esta (coerência) distingue-se daquela (coesão), mas completam-se indubitavelmente no processo de articulação.
De qualquer forma, o texto divide-se em partes que se integram completando-se. O todo seria o resultado final desse processo de completude e de organização. Assim posto será correto afirmar que de acordo com o já mencionado observamos que há duas grandezas para essa ordem; a forma ou os elementos estruturais e o conteúdo ou os elementos temáticos.
Entretanto há certas construções que conscientemente assumem um caráter vertical e difuso. Neste caso presume-se que o leitor deva ter um maior envolvimento com o texto na medida em que sua compreensão fica condicionada a essa objetivação. Essa desordem aparente que é mais uma característica do texto literário ou artístico é por natureza plurissignificativa.
Ao dissecar o texto deparamo-nos com partes essenciais e distintas do ponto de vista visual e significativo. O título e o parágrafo seriam as partes mais imprescindíveis do texto. Há também, como já foi dito, elementos internos que não podem ser separados uma vez que o texto deva exercer um papel relevante na perspectiva da harmonia e da ordem, isto é, da coesão e da coerência.
O título é sem dúvida um dos pontos mais relevantes nesse processo de articulação. Caberia a ele a função de apresentar ao leitor o ponto de partida para uma possível argumentação. É a essa característica – que os títulos expressam – portanto, o que chamamos de “macroestrutura” (Guimarães, 1993).
De acordo com essa autora há uma necessária distinção que deve ser feita entre macroestrutura e superestrutura. Ambas possuem as suas próprias funcionalidades definindo-se na estrutura do texto. Enquanto a macroestrutura está relacionada de forma intrínseca e inevitável do ponto de vista da significação, ou seja, semântico a superestrutura tipifica-o (o texto) num plano sintático.
Dessas observações fica esclarecido, portanto, que cabe a macroestrutura a identificação com o sentido global do objeto do texto ao passo que a superestrutura concretiza-se nas relações de frases e seqüências.
Os parágrafos por sua vez possuem características de argumentação que depende do estilo e do raciocínio, isto é, da pessoa que escreve o texto. As idéias de introdução, desenvolvimento e conclusão podem estar corporificadas no parágrafo. Este, por natureza e assim estruturado, possibilitaria uma melhor compreensão dos enunciados através da frase-núcleo ou do tópico-frasal.
Posto isso é bem provável que esse processo de integração que se estabelece entre as partes do texto formando um todo unívoco fomenta a idéia de organização e de clareza. Ao que chamamos de articulação do texto em termos mais ou menos distanciado pode ser definido como uma reflexão acerca desse processo, isto é, da integração da forma e do conteúdo como também do texto com o contexto a que está inserido. Ademais, o texto é um todo configurado como um feixe de conexões na relação de causa e efeito e de coesão e coerência aos níveis da estrutura sintática e da organização semântica.
REFERÊNCIA
Guimarães, Elisa. A articulação do texto. Ed: Ática S.A. 3ª Edição. São Paulo. 1993.