Autoritarismo extremista dentro dos ativismos de esquerda

Por que o feminismo ainda não decolou de popularidade entre as mulheres e mesmo entre os homens, nos países ocidentais??

O mais lógico seria que isso acontecesse, mas...

A razão não está apenas na campanha difamatória e sistemática da mídia de direita, porque os próprios núcleos feministas mais influentes têm um bocado de culpa. Pra começar, eles não estão preocupados em democratizar os seus debates mantendo-os apenas entre círculos acadêmicos fechados e, então, impondo suas conclusões com autoritarismo, alheios ao que pensam as mulheres de fora e que elas podem ser diversas em suas perspectivas.

De, ao invés de (esperar) atraí-las, ir até elas. Seria bem mais eficiente..

Por isso que, apesar das conquistas do feminismo, a maioria das mulheres não se sente representada por seus núcleos, muito provavelmente porque percebem que não estão sendo ouvidas ou consultadas, por exemplo, quando vários deles decidem entoar em uníssono nas redes sociais que "todo homem (heterossexual) é um estuprador em potencial" ...

Não se preocupe, não é uma ode ao democracismo ou extremismo de achar que opiniões de maioria estão sempre certas, até porque o pior ainda não é a imposição de medidas e abordagens sem constantes consultas populares, mas, de se fazê-lo com base em ideologias que, tipicamente, distorcem fatos considerados inconvenientes para que a realidade seja artificialmente forçada a se adequar às suas demandas, ao invés do bom senso de se fazer o oposto..

Outras pautas progressistas, especialmente as identitárias, também parecem atuar desta mesma maneira, de costas para a sociedade, incapazes de compreendê-la integralmente ou sem filtros ideológicos. A pauta Lgbt, por exemplo, que tem sido caracterizada como narcisista, pra quem vem de fora, porque parece que só pensa em direitos e não reconhece que também precisa ter deveres, resultando em sua ênfase em apenas duas frentes de atuação: o combate à homofobia e o aumento da representatividade Lgbt na mídia. Já, o combate à pandemia de Aids e de outras infecções venéreas, que deveria ser o mais importante, parece estar sempre em segundo plano. Outra medida de relevância seria abordar o problema da solidão afetiva, praticamente epidêmica dentro da "diversidade", ambas sequelas da hegemonia de uma ideologia anti-monogâmica e excessivamente hedonista ou frívola.

Além de autoritários também são extremistas porque muito daquilo que almejam impor não está precisa ou essencialmente baseado em fatos, independente do quão bem intencionado possa estar e, então, com potencial para causar mais problemas do que de resolver ou atenuar os existentes. Por exemplo, a besteira de querer alterar pronomes para agradar à uma parcela que parece ínfima da população Lgbt. Claro, sem ter nada próximo do que poderia ser chamado de diálogo com a "comunidade" e também com a sociedade, de maneira geral. Se dizem tão democráticos mas, na prática, têm agido de outra maneira.

Também é notório a inexistência de real democracia dentro dos partidos políticos socialistas, porque estão estruturados como hierarquias verticalizadas e envelhecidas em que apenas a cúpula de líderes que têm "lugar de fala" e de decisão. Jovens enérgicos e perspicazes ou são cooptados para servir passivamente aos interesses e às articulações estratégicas dessas cúpulas ou desistem de tentar o diálogo e debandam. Vão sobrando os mais conformistas, aumentando a rigidez dogmática ou incapacidade de flexibilização e, portanto, de adaptação, enfim, de compreender a realidade sem distorções ideológicas, até para melhor atuar nas frentes ou pautas. As mídias digitais e impressas das esquerdas também se equivocam porque ainda não pensaram na constituição de sites e blogs (além de canais no YouTube, alguns que foram criados recentemente, diga-se...) com conteúdos diretamente direcionados para as novas gerações de progressistas, existindo apenas os de formato para um público mais maduro, enfim, perdendo tempo e oportunidade de também cultivar uma audiência cativa e potencialmente ampla de jovens para a mobilização política e enraizamento cultural//ideológico.

Intelectocráticos??

Não é incomum que as piores ideias se popularizem entre os núcleos progressistas de articulação política e, consequentemente, entre as massas de mesmas ideologias, justamente por estarem de costas para a realidade prática. Como não conseguem ou mesmo como não querem dialogar com os diversos setores da sociedade, basicamente buscando se adaptar à situação corrente, acabam abordando-a com base em um predomínio de ideias muito abstratas, mesmo que se baseiem em ideais e observações profundamente pertinentes, por exemplo, de combate às desigualdades sociais ou parasitismo de uma classe sobre outra. É esperado que, sem a prevalência de líderes e influenciadores excepcionalmente ponderados, reflexivos, intelectualmente honestos e perspicazes, o controle de qualidade dessas ideias e atuações não será dos melhores. As esquerdas têm se mostrado, em média, muito pedantes, ingênuas e arrogantes, enfim, incapazes de reconhecerem seus erros e de buscarem aprender com eles. Está faltando verdadeira, precisa, constante e imparcial autocrítica, e isso é urgente. Mas, muitos progressistas têm crises de pânico e histeria só de se imaginarem apontando os seus dedos para si mesmos.

Realmente não parece que muitos deles têm como prioridade em suas vidas a compreensão objetiva e precisa do mundo para, então, buscarem por sua melhoria e, sim, primeiramente, de se sentirem bem consigo mesmos sinalizando suposta superioridade de virtude, mas, acabando como piões de polarização... e de ambos os lados.