Das chuvas de tarde
Me lembro de chuvas
Que hoje são areias do deserto/passado
Dos trovões, dos relâmpagos, dos raios
Do cheiro de umidade/ saudades
Dos momentos de realidade
Que mais parecem sonhos
E o pesadelo de todos os dias
Enquanto existe e definha
cruel e pobre humanidade
O céu cinza
As nuvens baixas
A dança das árvores
A casa é uma fortaleza
As paredes e as necessidades
As chagas e as certezas
Na janela da cozinha
Na cama do quarto
Lembro de outras brevidades
Dos ventos que fazem redemoinhos
Que definem a minha enfermidade
Protegido, em vacilante silêncio
Sinto, vivo a totalidade
O tempo, agora
Em que eu sou absoluto
Em que penso
se não existe uma tal eternidade
Efêmero, como cada segundo
E eu sigo em frente
Porque não existe outra vontade