A CRISE DE AUTORIDADE SOBRE A CRENÇA CRISTÃ NO CONTEXTO GERAL DOS CONCILIOS ECUMÊNICOS

Por Luís Magno Alencar/ICAB (Seminarista) - Diferindo do sonho intransigente da conquista católica do mundo através de um bispo universal, as primeiras comunidades cristãs pré-nicênicas, concebiam uma vivência democrática que incluíam nas decisões não só os clérigos (bispos, presbíteros e diáconos), más o fiel comum (At. 15, 22).

Sem as bases da organização administrativa do Império Romano, os olhares de respeito e resignação dos primeiros crentes voltavam-se para as igrejas da pentarquia cristã diretamente fundadas ou inicialmente liderada pelos apóstolos Tiago Alfeu (Jerusalém), Pedro (Antioquia e depois Roma), Marcos Evangelista (Alexandria) e André (Constantinopla). Comunidades criadas na mesma época em que outros lugares tinham essas igrejas como referências.

Quando surgiram os primeiros atritos de interpretações da religião nascente e agindo à exemplo do Concílio de Jerusalém (At. 15), os bispos realizaram os concílios regionais. No Concílio de Cartago, realizado em 255, prevaleceu a decisão conciliar de rebatizar os heréticos, mesmo sob as discordâncias do Bispo de Roma, Estêvão I. Eram apenas os concílios que exerciam a máxima autoridade na vida dos fiéis.

Na linha sucessória de evolução para os concílios ecumênicos, ou seja, para toda a Igreja, viu-se o protagonismo ortodoxo, claro, não apenas na geografia das reuniões convocadas pelo imperador (o “ecumene”), más também no esforço de fusão do pensamento cristão primitivo com a filosofia grega, assim demonstrada pelas ações missionárias dos apóstolos Paulo e João e através dos Pais da Igreja.

Entre as igrejas de tradição grega, ver-se que a ascensão de Constantinopla como a “Nova Roma”, conduziu-a no rumo de uma polaridade com Roma, ao mesmo tempo em que esta melhorava sua condição política com o surgimento do Império Carolíngio. A ortodoxia dos concílios andava de mãos dadas com a igreja estatal em ambos os lados e, neste contexto, é que após a experiência de um esforço de unidade em sete concílios (de 325 a 787), acentuaram-se uma presença cada vez maior de um “bispo universal”, por exemplo simbolizada pela ex comunhão mútua entre o Patriarca de Constantinopla, Cerulário, e o Papa Leão IX (através de seus prelados), no ano de 1054.

Inaugura-se assim, uma crise de autoridade sobre a verdade da crença cristã, agravado ainda mais pela centralização de um único tipo de catolicismo sobre todos os outros e irrompem-se sob o consenso da divisão, os títulos utilizados atualmente por bispos como o de Roma, tais como os de “Cabeça da Igreja”, “Príncipe dos Apóstolos”, “Servos dos servos de Deus”, etc., sugerindo aí, dentre mais, uma posição de autoridade que afastava a possibilidade de volta da unidade nos moldes do primeiro milênio.

Por fim, é salutar imaginar com Tertuliano a Jerusalém que não deveria ser substituída e para onde nossos olhares devem ser direcionados : “As nossas numerosas Igrejas reputam-se todas a mesma Igreja, a primeira de todas fundada pelos Apóstolos e mãe de todas as demais. São todas apostólicas e, juntas, não vêm a ser mais que uma só, pela comunicação da Paz, pelo mútuo tratamento de irmãos, pelos vínculos de hospitalidade que unem a todos os fiéis”.

Gualther de Alencar
Enviado por Gualther de Alencar em 03/09/2020
Código do texto: T7053652
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.