UMA NOVA ECOLOGIA, UMA NOVA CHANCE

Assisti, ontem, á uma live entre o jornalista André Trigueiro e o líder indígena, ambientalista e escritor Ailton Krenak. O tema da conversa foi sobre o livro de Krenak chamado "Idéias para adiar o fim do mundo". Penso que devemos escutar mais homens como ele. Nesses tempos que vivemos, onde a única certeza é a completa incerteza, sua mensagem tem sido um alento, e apontado luzes no fim do túnel.

Chegamos a um momento limite como Humanidade. Todas as nossas teorias, filosofias e sistemas de pensamento, não podem nos ajudar muito, agora. O mundo está desabando e não sabemos o que fazer; não só pelo Corona vírus. Na minha visão, ele deve ser encarado como um dos sintomas de uma engrenagem social decadente, insustentável. Precisamos de uma Nova Ecologia, em todos os sentidos.

A natureza está sendo tratada como um supermercado, estão extraindo dela muito mais do que o necessário, como disse ontem, o Krenak. A sede de poder, a ganância, a voracidade dos mercados e da sociedade de consumo não têm limites, não têm ética, destroem o planeta, destroem a vida, em todas as suas manifestações. O deus mercado nos aliena de nós mesmos, de nosso semelhante, e da natureza. Estamos reduzidos a códigos, números, CPFs. Consome- se para viver, e vive- se pra consumir. O capital decide tudo, inclusive quem deve viver e quem deve morrer.

Krenak diz – e concordo com ele – que a Mãe Terra é um organismo vivo que se comunica conosco. E, nesse momento, está nos devolvendo a forma como a temos tratado, e como temos nos tratado, enquanto irmãos e semelhantes que deveríamos ser. Está nos dizendo: " Calem-se, fiquem quietos. Aprendam a me ouvir."

Somos filhos da natureza e nos afastamos muito dela e de sua sabedoria, inclusive do saber de homens como Krenak. O Homem, principalmente o ocidental, deificou a razão, achou- se onipotente. Senhor da ciência, pensou que iria controlar e dominar a natureza. Ledo engano. Nunca seremos maiores que ela. Somos parte dela.

Os avanços científicos são importantes e devem continuar, claro. Mas não podemos reduzir tudo a isto. Não podemos achar que as vacinas nos livrarão e eximirão de tudo, inclusive das mudanças que precisamos fazer se não quisermos ser extintos. Sim, extintos. Não vejo muito futuro se continuarmos nessa batida atual, e não despertarmos para valores éticos mais altos. Tudo nos mostra isso.

Não podemos aceitar de volta, um mundo inaceitável. Um sistema que mata, explora e oprime. Uma elite perversa, manipuladora, que deseja imprimir a perpetuação da desigualdade e dos seus privilégios, doa a quem doer, custe o que custar.

Em nosso país, temos uma classe política que não nos representa, que nos rouba e nos desrespeita sistematicamente. A cultura, a arte e a educação, que são os alicerces de uma sociedade evoluída, estão sendo propositalmente destruídas.

Ainda não é fácil para nós, pensar as questões de forma sistêmica e coletiva, mas acredito que, só assim, poderemos vislumbrar soluções para os nossos males.

A estratégia do poder dominante é justamente nos dividir para nos enfraquecer. O que importa, é sermos homens e mulheres de sucesso, deixando o resto para trás. Um sucesso imposto e questionável. Cego. É a cultura do individualismo e da competitividade. Parece que achamos que tudo vai se resolver num futuro próximo com a descoberta da vacina para o vírus, e pronto: tudo vai voltar ao normal. Problemas sempre existirão, mas vida que segue. Por tudo que tenho lido, ouvido e percebido, não creio... urge que façamos mudanças.

A nível de prevenção, e cuidados para com o vírus, literalmente, e a nível de reformulação social. Chegou a hora de despertar.

Todos somos responsáveis e, de alguma forma, fazemos parte de tudo que acontece, por ação ou omissão. Precisamos delegar menos aos outros, aos políticos.

Precisamos, todos, cada um dentro de suas especialidades e possibilidades, não apenas cuidar dos efeitos produzidos por uma sociedade doente, mas nos tornar parte ativa na luta contra tudo o que ameaça a vida. Uma Nova Ecologia afetiva, econômica e política deve começar, já. Primeiramente, dentro de nós, no cotidiano, nas micropolíticas e, depois, fora: nas macropolíticas.