A artista que atravessou o tempo

Em 1970 houve um discotecario que apresentava programa na televisão e que certa vez se referiu desdenhoso a Rita Pavone, dizendo que ela estava "superada há muito tempo". E lamentou que a cantora italiana estivesse então fazendo bastante sucesso em Israel.
Ele não usou nenhum critério de qualidade.
Rita Pavone naquele mesmo ano veio ao Brasil, cantou com Ellis Regina no Canecão aqui do Rio de Janeiro, fez um especial na televisão com Agildo Ribeiro. Entre 1972 e 1975 ela morou na França e ganhou tanto dinheiro, mesmo estando "superada", que pôde construir uma mansão na Suiça, que passou a ser a sua residência.
Em 1979 ganhou o "superdisco de ouro".
E mesmo sem mais vender ou mesmo gravar tantos discos como antigamente (honestamente ela precisa?), Rita prossegue até hoje, e neste ano de 2020, participou do Festival de San Remo com a nova canção "Resiliência" (pode-se assistir no YouTube).
O apresentador, autor daquela infeliz declaração, morreu há muito tempo atrás, mesmo.
A mídia é muito cruel e com certeza sempre existem artistas de valor que vão caindo no esquecimento, alguns morrem na miséria, mas nem por isso podem ser menosprezados. E esse nem é o caso da Rita Pavone, nome respeitado até hoje, aos 74 anos, e que com 57 anos de carreira profissional participou do San Remo.
Sim, foi antes da pandemia, mas foi este ano.
Não se debocha de uma artista só por não gostar dela.