Por que ou como que o PT quase acabou com as esquerdas brasileiras??

Neste texto, faço apontamentos com base no que tenho percebido sobre a atuação do "Partido dos Trabalhadores" até à atualidade, SE MAIS OU MENOS PRECISO, visando compreender o enfraquecimento das esquerdas brasileiras, especialmente na segunda década do "século XXI"...

1. O PT é ou tem agido como um partido eleitoreiro/acomodado...

Desde os anos 90, quando tomou a dianteira do protagonismo progressista no país, se limitou a agir como oposição vocal àquela sucessão de governos neoliberais, no congresso e na mídia. As frentes socialistas que cooptou ou construiu não tinham outra função a não ser trabalhar para garantir sua expansão nas próximas eleições. O chamado "trabalho de base"* parece que não era o seu objetivo.

* Criar bases de identificação por ações  concretas, de solidariedade e diálogo, não apenas com os mais pobres, mas também com a classe média, enfim, buscar pelo que deveria ser óbvio, pelo máximo de apoiadores que conseguisse. O PT não fez nada disso, pois esperou ganhar as eleições presidenciais, depois de uma década à deriva e sempre pensando na população, mais como eleitores do que como contempláveis vitalícios.

2. Partido incapaz de se adaptar a curto e a longo prazo, de compreender a realidade de fora de sua bolha

O anti-petismo atingiu o seu auge nas eleições de 2018.. o que o PT fez??

Pediu aos seus eleitores para manterem apoio a um candidato petista, pouco carismático, com histórico recente e pífio na gerência da maior cidade do país, do que apoiar outro candidato (Ciro), de outro partido, com mais chances de bater de frente com aquele flagelado sub-humano (??)... que, atualmente, ocupa o cargo de "presidente".

Jamais admitir culpa por seus erros. Pois até apostaram na invenção de uma narrativa alternativa aos fatos, em que se passam como vítimas absolutas da velha política brasileira, com a qual se aliou, da mídia tradicional e da "manipulação dos algoritmos"... sendo que essas são "apenas' parcialmente responsáveis por sua demonização e, por tabela, das esquerdas, perante amplos setores da sociedade. Forçar o país a sediar copa do mundo e olimp(i)adas (sem ter plenas condições) em um curtíssimo espaço de tempo, e toda lambança resultante das duas (superfaturamentos, por exemplo); deixar a "presidenta" Dilma fazer vários discursos vergonhosos, sem a atuação pontual de assessores para orientá-la; construir uma represa gigante de nome "Belo Monte", nas margens do rio Xingu, passando por cima das populações locais e ameaçando o equilíbrio ecológico da região; apoiar máfia evangélica, bancada/cambada "ruralista" (ecocida); se envolver em grandes esquemas de corrupção e, pra variar, negar tudo (dica: isso nunca funciona); reprimir manifestações legítimas, tal como a greve dos caminhoneiros; explicitar diferenças por meio dos identitarismos das "minorias'. Enfim, o PT conseguiu a façanha de desagradar a gregos e troianos.

2.1. Sem noção básica de política inteligente

A maioria dos brasileiros são mais conservadores do que progressistas, ideologicamente. Apenas por isso, o partido deveria ter, em ação conjunta com as esquerdas, buscado conciliar a necessária emergência da pluralidade identitária de minorias com essa maioria que, apesar de também se apresentar como plural, se ajunta de modo mais homogêneo em bandeiras culturais "tradicionais".Trabalho psicológico básico que foi jogado a escanteio e substituído pela imposição literal do politicamente correto (de esquerda).

 Se o PT se capacitasse de gente com conhecimentos técnicos das mais diversas áreas e, principalmente, de especialistas estratégicos dotados de astúcia ou racionalidade, talvez reconhecesse seus erros antes que se acumulassem ao longo do tempo e se transformassem em munição pesada contra o partido e também contra as esquerdas, de maneira geral.

O brasileiro médio está longe de ser um gênio, mas pode perceber algumas obviedades, por exemplo, o íntimo envolvimento do Brasil com países "comunistas", forçado pelo PT, sem diálogo com a população, e que não são paraísos democráticos, como a maioria dos petistas acredita. Mas, quando se vive por muito tempo dentro de uma bolha ideológica, não é possível pensar fora dela e seguir sempre pelo bom senso.

3. Corruptível?

Um partido que, além de demonstrar tolerância por atos de corrupção por parte de seus membros, não muito diferente dos outros, também os defende de acusações e punições, sendo que construiu sua bandeira justamente com base no combate à corrupção.

4. O petista típico é um ignorante em comunismo??

Pensa que a China é plenamente comunista e a usa, com ingenuidade e pedantismo, como exemplo de "comunismo bem sucedido". Pensa e faz o mesmo em relação a Cuba e Venezuela. Enfim, dentro da bolha de esquerda, não tem como aprender sobre o mundo sem cair no fanatismo de adorar acriticamente esses países. Se dizem favoráveis à democracia e totalmente contrários às ditadura militares, mas, defendem certas ditaduras, supostamente do proletariado, só porque estas se definem de esquerda??

Porque parece que muitos petistas são de ''estalinistas'', do tipo que despreza todos os crimes contra o meio ambiente e a humanidade já cometidos por países ditos comunistas, especialmente a ex-União Soviética.

Se eu digo a um conservador, de direita, que a Coreia do Norte não é comunista, aparecerão uns três estalinistas tentando me refutar pois acreditam na propaganda que a pinta como se fosse um paraíso fechado e injustiçado pela mídia ocidental.

Se leram o famoso livro A Revolução dos Bichos, não entenderam nada ou, então, transformaram George Orwell em herege.

5. O PT é um partido caduco, de estrutura hierárquica antiga/rígida

Um partido socialista, dominado por estalinistas, não poderia ser diferente de um grupo congelado no tempo, mais precisamente no século XX, com uma juventude submissa, uma cúpula de dirigentes envelhecidos, uma hierarquia rígida, um sistema de castas políticas, incapaz de fazer frente a um sistema fluido e competitivo que tem sido constituído no outro lado do espectro. Tem contado com  a sorte de a extrema direita brasileira, até  agora, ter se mostrado muito instável.

6. Não foi suficientemente socialista

Muitos de esquerda, que votaram no partido desde há um bom tempo, não mais o fizeram nas eleições de 2018, por pura decepção, de uma sigla que prometeu "socializar" o país mas acabou se envolvendo intimamente com a velha "elite", mostrando o quão equivocados foram os seus mandatos. Sem falar de suas políticas públicas que implementaram, como o projeto "minha casa, minha vida", criticado por entregar casas e apartamentos mal construídos para muitos dos assistidos.

7. Culto à personalidade??

Temos.

O lulismo, marcado pelo misticismo fabricado em torno da imagem do Lula, líder máximo do PT, é outro ponto negativo que contribuiu para enfraquecer a imagem de coerência racional das esquerdas perante o restante da sociedade brasileira, em especial pra sua fração mais inteligente e naturalmente avessa à mitologias. Ao invés de um partido dinâmico, rejuvenescido, horizontalmente hierárquico, mais aberto para diversidade de opiniões e, como resultado, maior riqueza em seu potencial estratégico, o PT se transformou em uma seita que tenta inculcar uma versão da realidade que só é comprada por aqueles que já estão dentro de bolhas ideológicas das esquerdas. Valendo sempre dizer que as direitas conservadoras também vivem em suas versões alternativas de realidade, eu diria mais, versões primitivas.

As bem feitorias do Partido dos Trabalhadores (transparência quanto aos casos de corrupção na política; ampliação de direitos em diversos setores, como a criação de cotas nas universidades; aumento de renda das classes baixas; bolsa família...), infelizmente, empalidecem perto de todos esses problemas e equívocos graves, aqui pontuados, que remontam desde às suas estruturas primárias. Neste sofrível ano de 2020 ("d.c"), temos esquerdas: diminuídas, demonizadas, fragmentadas e alienadas dentro de suas bolhas, um punhado de partidos pequenos, presos em rigidismos marxistas, que só tem atraído uma ínfima parcela da população, e um partido desproporcionalmente maior que teve 14 anos para revolucionar o país, mas conseguiu muito menos do que sua autopropaganda afirma. Um partido que, até agora, simplesmente não fez sua básica autocrítica para saber onde foi que errou, mantendo a crença em sua versão dos fatos em que aparece como o grande injustiçado... Não é uma crítica suave, mas nem por isso desejo que o partido desapareça e sim que abaixe bastante o seu ego, especialmente de sua cúpula, e, finalmente, aprenda com os seus erros. Tenho essa esperança.