Diário de uma paciente nada paciente.
Antes de contar da contaminação em si, quero dizer que não sei ao certo como me infectei e nem quando. O não saber o quando talvez seja o que mais me angustia. O medo de ter infectado outras pessoas é terrível. Sou profissional da saúde. Saia todos os dias para trabalhar com medo, mas usava máscaras, touca, álcool em gel, porém infelizmente aconteceu. Dia das mães saio de um plantão de 12 horas onde prestei apoio e suporte psicológico à uma familiar que havia perdido sua mãe naquele dia. Coração apertado querendo voltar para casa e vê minha filha, mas sabendo que não poderia abraça- la para evitar o contato. Já no caminho de casa comecei a sentir dor de cabeça, olhos irritados, coriza e um cansaço fora do normal. Cheguei em casa minha filha tinha feito uma surpresa linda para mim. Flores e um belo jantar, mas eu me sentia exausta. Respiração ofegante. Adormeci por volta de 21 horas. Acordei as três da manhã com dores nas costas e muita diarreia. Vi o dia amanhecer. Comecei a tossir e ficar cada vez mais cansada. Tentei tomar café mas não sentia o gosto. O mal estar piorou muito. Então decidi procurar ajuda médica. Urgência lotada eu aguardei cerca de uma hora para ser atendida. Exame de sangue, eletrocardiograma, tomografia e medicações. Ao final do dia a médica me olha e da o veredito : você está com Corona vírus vá para casa, se isole de todos. Alimente- se bem, repouso total e medicação nas horas certas. Caso os sintomas piorem você volta aqui. Até logo, próximo !
Fui para casa chorando. Eu não era mais a Francineti. Uma pessoa assustada e cheia de medo e dúvidas. Tornei- me o paciente de COVID número X.
Em casa isolada de todos eu buscava estratégias para preservar minha saúde mental. Uma de delas foi evitar notícias ruins e procurar manter minha mente ocupada com atividades que me dão sensação de prazer. Ler, escrever, ouvir música, meditar e orar me ajudaram muito a manter meu equilíbrio e paz. Agradecer sempre pelas coisas boas também me faz bem, por isso eu agradecia muito a minha filha Luiza pelo carinho e pela extremada dedicação com que estava cuidando de mim.
Já no terceiro dia eu sentia dores de cabeça e muito cansaço. Passava as noites acordada. Nada conseguia me distrai. Tentava lê e não conseguia, pintar cansava. Ouvir música e orar me acalmavam um pouco. Para a minha angústia minha filha começou a tossir muito e sentir desconforto respiratório. Não deu outra. Ela também estava com o Corona vírus. Seguimos então com nossos cuidados.
Não poder receber visitas, não poder abraçar as pessoas que amamos tornava a doença ainda pior.
No quarto dia comecei a me sentir melhor. Já sentia fome e estava sem dor, porém o cansaço permanecia. Abri as janelas para deixar o sol entrar. Ao sentir o sol no meu rosto chorei de gratidão. Eu estava viva e sem dor.
Quinto dia. Acordei bem melhor. Sem febre, sem dor mas o cansaço permanecia. Boca amarga e o estômago embrulhado. Aproveito para lê e escrever.
Sexto dia fui a minha sacada olhar a rua e pegar um pouco de sol. Molhei minha plantinha que já começava a morrer por falta de água. Nesse instante lembrei que precisava beber água. Bebi a água gelada como se tomasse um sorvete. Fazia dias que só bebia água natural. É interessante como coisas pequenas tornam- se grandes diante da falta.
Sexto dia. Acordei cedo e cheia de ânimo. Ouvi música, respondi mensagens, li e-mail , assisti uma vídeo aula e arrumei meu quarto, mas de repente comecei a ficar cansada. Acho que exagerei. Voltei para a cama. Hoje estou no sétimo dia. Quase sem sintomas. Graças a Deus hoje estou bem. Digo hoje porque essa doença é estranha. Um dia estamos bem e no outro começam as dores. Mas espero que os sintomas tenham de fato chegado ao fim. Sigo agradecendo a Deus pela vida e a minha família e aos amigos pelo carinho que recebi em cada mensagem e oração enviada pelas redes sociais. E viva a vida!