Por que o ser humano faz religião?
Antropologia Religiosa
Acredito que o ser humano faz religião para buscar o transcendente, ou seja, para ver além da própria realidade. O texto de Rubem Alves fala que "a consciência religiosa é uma expressão da imaginação" e diz que Durkheim lembra que "a essência da religião é a capacidade de conceber o ideal, de acrescentar algo ao real". Essas ideias me parecem bastante coerentes com a busca da transcendência, e inclusive concordam com o que diz Manheim: "a imaginação surge da insatisfação com a realidade existente, e por isso, há sempre uma indicação daquilo que faltava na vida real".
Uma análise dos aspectos psicológicos que levam o ser humano a fazer religião inclui as ideias de Scheler de que "são as fantasias que estruturam as nossas experiências, povoam nosso passado, determinam nosso presente, criam nosso futuro, e assim determinam nosso ser e nosso agir". Nessa busca por acrescentar algo de "deveria" ao todo que "é", creio que as religiões têm importante papel ao apresentar as "promessas apelativas" mencionadas por Gleiser, utilizando conceitos abstratos e referentes ao sobrenatural para acomodar respostas, ou promessas, para "o que vem depois da vida e da morte" e para "entender melhor quem nós somos", por exemplo.
Há controvérsia quanto a o ser humano fazer religião para explicar o mundo. O texto de Rubem Alves declara que "a intenção da religião não é explicar o mundo", e a fala de Marcelo Gleiser diz que "a religião quer explicar o desconhecido com o desconhecível". Isso se contraporia ao que a ciência pretende, que é "explicar o desconhecido com o conhecido", "entender melhor quem nós somos", "buscar a transcendência", com o palpável, sem promessas apelativas, apenas com fatos verificáveis (e angustiantes), como "somos poeira das estrelas".
Entretanto, essa controvérsia se dissipa quando se determina o foco das religiões, quando Rubem Alves diz que "a experiência religiosa é paixão subjetiva" e quando Kierkegaar diz que a religião é "a contradição entre infinito e finito, um amor e um palpite, uma saudade do ausente e uma visão do que não se pode ver". A definição do demoníaco também reforça a subjetividade: "é a horrenda possibilidade de que os valores (objeto da paixão infinita) venham a se reduzir a nada".
Percebe-se, assim, que o ser humano faz religião, subjetivamente, com elementos abstratos, sobrenaturais, desconhecíveis, com a intenção de buscar a transcendência, de ir além da bruta realidade, ir além da "poeira das estrelas", de acrescentar ao real o que lhe falta de ideal, de entender melhor quem nós somos, de continuar crendo apesar da falta de lógica (como Oswaldo Montenegro na canção), de trabalhar a angústia existencial. Por isso, creio que a melhor definição foi a de que o ser humano faz religião para tê-la como "expressão de amor e expressão de medo".