Síndrome do Pânico
Sexta feira, no fim da tarde, foi um dia muito especial pra mim. Tomei um belo de um banho, coloquei a minha melhor roupa, passei o meu melhor perfume e, no rosto, vesti o meu melhor sorriso preparando-me pra sair. Vinte insuportáveis dias preso dentro de casa. Finalmente a liberdade depois de todos esses dias de confinamento. Enfim, teria direito de sair pra rua. Abracei a todos no quintal, um a um, sem exceção. Todos me desejaram boa sorte e que tomasse muito cuidado, pois lá fora o mundo é terrivelmente cruel. Minha irmã, chorando, recomendou-me que, pelo amor de Deus, voltasse logo e que não demorasse para enviar notícias. Abri o portão cuidadosamente e olhei para os dois lados certificando-me se realmentr não havia nenhum perigo. Ascenei com uma das mãos e notei que alguns choravam a minha partida enquanto outros apenas me observavam apreensivos. Finalmente tomei coragem e sem olhar para traz corri desesperadamente pela calçada, parei em frente à lixeira encostada no muro e mais uma vez certifiquei-me se eles não estavam por perto. Ergui os bracos e cuidadosamente ajeitei os dois sacos de lixo no interior da lixeira. Olhei para os dois lados da rua completamente vazia e voltei correndo pra dentro de casa. Todos estavam ali me esperando. Fui recepcionado tal como um presidente é recepcionado em um pais estrangeiro. Meu primo se aproximou e depois de me abraçar fortemente virou-se e disse em voz alta: pessoal, não se esqueçam que quarta feira que vem é a minha vez de por o lixo na rua. Esse tal de Corona Vírus tá deixando a gente louco.