Um dos finais...

O olho dourado do pequeno elfo sangravam profusamente, o sangue empapava as vestes amarelas formando uma pasta gelatinosa que descia lentamente por todo o lado direito do corpo. No chão jazia um pedaço do topázio mágico praticamente destruído que durante tanto tempo havia sido sua bengala, sua salvaguarda, aquilo que o trouxera até aquele lugar perdido no tempo tantas vezes antes e o tirara de lá ileso também, se fosse esperto poderia fazer mais uma vez, uma última vez.

Mas agora era diferente, aquilo agora havia saído do controle de forma tão imprevisível que ele desconfiava estar imaginando, na verdade tudo havia saído do controle desde o dia que teve aquela ideia estúpida, que cedeu a uma ambição de natureza tão...humana.

Sua mão apertava forte o cabo da adaga, uma arma inútil ele sabia, mas não havia outra, não podia simplesmente desistir de pois de tudo que vira, eras e mais eras, futuros distópicos, destinos distorcidos, mundos infinitos... Não, ele não podia simplesmente desistir. Apoiou a mão livre no chão e tentou se levantar, se arrependeu do ato na sequência ao sentir o osso da perna que desconfiava ter quebrado com o ultimo impacto, desconfiança agora substituída pela certeza de que a perna era inútil. A perna, o olho direito, parte do braço esquerdo que foram esmagado pela criatura colossal a sua frente... tudo nele era dor, arrependimento, inutilidade e frustração, largou a adaga no chão, era melhor usar a mão boa para tentar alcançar o fragmento de topázio.

A sua frente o humanoide de quatro metros de altura o encarava soberbo, olhos impossivelmente azuis, cabelo longos e louros presos a fitas vermelhas até metade das costas, armadura fechada prateada com um brilho insuportável, e asas... asas, imensas asas de águia brancas com leves pintas prateadas e toda sua extensão. Ao seu lado fincada no chão estava uma lança, ao redor da ponta da lança ridiculamente afiada uma poça de sangue, fragmentos de topázio e restos do olho de um certo elfo.

A criatura segurava entre seus dedos indicador e polegar oque sobrava de um monóculo, finos fios dourados delicados ligavam oque fora uma lente amarela a alguns minutos antes.

-Tens a audácia de manipular tal elemento de poder Elfo, tu tens a audácia de tentar interromper a ordem natural das coisas, em tentar romper o círculo das eras.

O Elfo tossiu uma mistura de sangue e pedaços de carne que não sabia ao certo de onde vinham, não conseguia acreditar em como estava vivo no final das contas, a lança que o acertara deveria ter arrancado a cabeça, mas só lhe custara o olho e o artefato que o ser admirava de forma sinistra. Talvez usar tanto os poderes deste artefato finalmente houvessem afetado seu corpo, inclinou o rosto para o fragmento a sua frente, que pareceu emanar seu costumeiro brilho de forma tímida, sorrio levemente talvez, talvez houvesse chance.

-Achas que és um herói criatura vil? És um inseto! Um nada! Esta peça de feitiçaria antiga te salvou de minha lança por puro acaso.

Falando isso encostou os dedos esmigalhando o monóculo, olhou novamente o elfo.

- Agora contempla tua obra! Contempla o resultado de suas maquinações, eu vou te eliminar da história, de todas as histórias, você não passa de nada!

O elfo sabia oque ele estava falando e fio de esperança se rompeu, notara é claro que as paredes a sua volta estavam tenebrosamente decoradas com cabeças em troféus de caça, cada uma delas com infinitas expressões de horror diferentes, olhos amendoados e amarelados, cabelos vermelhos de tamanhos diversos, rostos conhecidos, rostos que os encaravam no espelho por toda sua vida... o fragmento, tinha de alcança-lo.

-Eu te cacei criatura suja, eu pessoalmente procurei todas as suas versões, essa praga que chama de ser, um verme, uma bactéria na existência que tinha como o única motivação impedir o destino da criação.

O tom de voz da criatura se abrandou quando olho para trás de si mesmo, uma mulher despida alheia tudo que acontecia estava concentrada em seu trabalho, suas mãos eram tinta pura que tocavam freneticamente uma pequena tela a sua frente, cabelos longo e negros desciam até o chão em uma trança extensa, seu olhos, que o elfo não podia ver de onde estava, eram espaços vazios , estava viva mas era como se não estivesse, estava lá mas era como não estivesse.

O elfo aproveitou aquele nano segundo para se arrastar até o fragmento a sua frente, pegou e apertou com toda força que tinha, a única coisa que passava na sua cabeça a partir daquele momento era.

...Funcione, me leve de volta.

A criatura voltou a atenção para ele, encarou a lança por um fragmento de tempo e balançou a cabeça com um meio sorriso, como se recusasse a oferta de alguém íntimo, alguém que não precisa usar palavras para se fazer entender. Desafiando qualquer física que ainda existisse as asas abriram e alçou voo até sumir da pouca visão que o elfo ainda tinha, não havia considerado as dimensões da sala ainda, para um ser daquele tamanho voar daquela forma... isso só o fez pensar na quantidade de cabeças de suas outras versões nas paredes que agora atingiam uma proporção muito maior na sua mente e aquele pensamento era mais perturbador, voltou a focar sua mente.

... Funcione, me leve de volta... o fragmento apertado na sua mão começava a machucar, mas nada além disso.

Então tão rápido quanto alçou voo a criatura pairou diretamente sobre ele, devia estar a vinte metros de altura.

-Verme... inseto...

O elfo forçou a visão, de onde estava no chão conseguia notar que o ser estava diretamente acima dele, uma perna levantada e a outra reta como se escorado em uma parede invisível....

...Funcione, me leve de volta.

-Não quero sua cabeça deformada.

A expressão era de pura repulsa, o elfo percebeu oque o ser pretendia fazer, iria esmaga-lo.

...Funcione, me leve de volta.

A expressão agora era de orgulho, deleite, a clara expressão de quem havia ganhado uma disputa de forma ridiculamente fácil... Melhor, nunca houvera uma disputa, para ele aquilo era um passatempo...

...Funcione, me leve de volta.

... ele era um ser superior, celeste, santo, um ser de luz, um ser de criação, e o elfo? Só um nada em todo plano de existência.

...Funcione, me leve de volta.

Fechou as asas, deixou a física fazer o resto, era o fim de sua missão de defensor divino.

...Funcione, me leve de volta!!!

O elfo fechou o olho levemente bom ao ver a mancha prateada cair em sua direção como uma montanha.

...Funcione, me leve de volta!!!

O último fragmento de segundo demorou mais do que deveria passar, o suficiente para o elfo pensar por uma última vez.

...Funcione, me leve de v...

E tudo ficou preto.