61 Invertido = 16

Olhando minha idade, 61 anos, pensei vou invertê-la e lá estava aos 16, anos 75/76; sou escorpiano de 10 de novembro de 1958. Era magro, muito magro; esquálido. Cabelo loiro claro e comprido. Iniciando o 1º ano do ensino médio, que à época chamavam de colegial. Tímido, arredio, pouco falante, dificuldade em chegar e conversar com as meninas amigas e colegas da época. Uma visão social já muito forte, doía-me pelos outros, como até hoje. Por ser magro e alto chamavam-me de girafa amarela e, talvez por isso, goste tanto da cor amarela. Diziam que olhando do alto era um pingo e de lado um graveto. Por usar óculos fundo de garrafa, era 4 olhos. Mas, sem modéstia, sempre fui bonito... e de olhos azuis esverdeados. Mesmo velhote, gosto da carcaça, eis que amor próprio é tudo. Filho de pai músico, tendo cantado na hoje extinta Rádio São Leopoldo, onde declamava também poesias, tenho a música na veia, bem como a poesia. Cresci em meio aos músicos dos conjuntos nos quais ele tocou, sendo dois que lembro, o Conjunto do Fredy, com "e" grave e o principal que chamava Musical Pepe Show, do hoje falecido Olímpio Noswitz, pistonista dos bons, inclusive da banda do 19º Bimtz (exército). Vivi e sobrevivi apesar do tal de golpe de 64; aliás, nunca trouxe-me problemas, pois nunca fui de causar problemas. Torcedor do Clube Esportivo Aimoré, participava de uma torcida organizada chamada de Força Jovem Índia. Tocava surdo na charanga e redigia o jornaleco que era vendido nos dias de jogos no estádio Cristo Rei. Sempre fui de poucos amigos (muita timidez) e, à noite, invariavelmente saía sozinho. Pensava... sou lobo solitário. Apenas observava o movimento mas tinha dificuldade de interagir com os grupos. Estudioso, mandava muito bem em matemática e português e adorava francês, que à época era ensinado antes até do inglês. Estudava nessa época numa escola pública das boas chamada de Colégio Estadual Professor Pedro Schneider. Meus professores, até hoje, são meus ídolos e a razão de ter chegado até aqui. Com anuência e parceria da mãe, usávamos os modismos da época, apesar do pouco dinheiro. Uma costureira copiava os modelitos para nós. Usei calça boca de sino, blusinha de malha curtíssima e justa, com umbigo de fora e nos pés tamanquinhos de base de madeira, uma bichona (nada vai aí de preconceito, apenas comentário). Joguei futebol, gostava de correr, jogava basquete razoavelmente bem (melhor que futebol). Aprendi a andar de ônibus apenas aos 19 anos, pois antes, por morar no centro da cidade, andava apenas a pé ou de bicicleta. De poucos amigos, mas os amigos da época, alguns já falecidos, trago guardados no coração e, por vezes, causam-me momentos de saudade. Sobre alguns volta e meia escrevo. Nunca fui namorador talvez pela timidez, mas, até casar, tive algumas namoradas. Nessa época, pasmem, não havia namorado ainda, mas sonhava em ter uma namorada. Sempre gostei de cachorros e adorava plantar meus canteiros de batatas e cenouras. Aliás, sempre encantei-me com pés de batata. Nunca gostei de gatos! Desculpem os que gostam, como minha irmã mais nova (51). Tinha, nessa época, minha mãe como principal confidente. Passeávamos todas as tardes conversando pela principal rua da cidade, chamada de Rua Grande, cujo nome oficial é Rua Independência. Adorava cinema (haviam 2 na cidade) e assistia tantos filmes quanto os parcos trocados permitissem; era um cinéfilo. Frequentava direto a biblioteca da escola e a pública do município. Adorava visitar o museu, gostava de produzir quadros a partir de colagem e fazer capachos para limpar os pés a partir de tampinhas de garrafas pregadas numa tábua de madeira. Possuía um tênis da marca Kichute, "must" da época. Usava perfumes (hoje não mais) e anéis (também não mais). Percebo que talvez minha essência não tenha mudado tanto, mas o tempo mudou-me, o que creio ser normal. O que chateava-me não chateia mais; algumas ainda, mas poucas. Abdiquei de alguns hábitos e criei outros. O mundo muda constantemente e com ele mudei. Como a mente da gente viaja voltando no tempo apenas invertendo o número que caracteriza a idade atual. Não vivo de reminiscências! Miro sempre o futuro! É o futuro que instiga-me, mesmo quando daqui partir...

fabio fernandes
Enviado por fabio fernandes em 08/01/2020
Reeditado em 21/01/2020
Código do texto: T6837215
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