Depressão e Suicídio na população brasileira (Modelo Enem)

Quando Brás Cubas explanou sua máxima "suporta-se com paciência a cólica do próximo", deixou evidente em suas memórias que os problemas que não estão relacionados à sua vida, não são relevantes; apesar de ficcional, esse pensamento individualista é presente na realidade e desencadeia uma série de impasses, como o aumento dos casos de depressão e seu trágico desfecho: o suicídio. No Brasil, a questão ainda é pouco debatida, por isso, a fim de mitigar a problemática, urgem medidas eficazes.

Em primeira análise, o brasileiro oculta cada vez mais seus transtornos psicológicos. Isso é feito quando este se "blinda" numa falsa felicidade constante, que pode ser facilmente observada na forma como é divulgada sua imagem nas redes sociais, externando apenas perspectivas positivas, de realização e imagens em que o sorriso - muitas vezes forçado - é regra de uma publicidade frágil, desesperada e, por vezes, desgastante, haja vista que notavelmente, o ser humano apresenta variações de humor ao longo do dia, decorrentes de fatores externos (como brigar com alguém, ou receber um elogio), e internos (como a insegurança às vésperas de uma prova). Depreende-se disso, que as redes sociais contribuem para o recrudescimento de transtornos psicológicos, como a depressão, pois na tentativa de se atingir uma estabilidade emocional constante, há a frustração por tal impossibilidade.

Ademais, no que concerne a questão da perspectiva de Cubas, o individualismo desencadeia a falta de empatia com o outro, fazendo com que, por exemplo, haja uma desatenção crucial em comportamentos que poderiam diagnosticar o avanço progressivo da depressão, dando atenção às queixas como "a morte seria uma libertação dessa existência corrosiva", dentre outras, que evitariam o suicídio, com a intervenção ao pedido de ajuda, que pode surgir pelas respectivas queixas ou de outras formas, como a própria mudança nos comportamentos afetivos. Sobre o suicídio ocasionado pela falta de empatia, o compositor Chico Buarque em sua canção "Mar e Lua" traz um exemplo de duas mulheres que abreviaram a vida em virtude do estigma com sua relação homoafetiva, que fez com que estas se isolassem buscando refúgio na única forma que viram como libertação da coerção da sociedade local, que prezava pelo relacionamento tradicional, abreviando a própria vida, elas se jogaram ao mar. Dessa forma, é preocupante que tanto o individualismo - que cega a sensibilidade -, quanto a pressão do coletivo por uma padronização inexistente - haja vista que na sociedade real, o plural é regra - sejam cultuados, em vez de combatidos.

Infere-se, portanto, que em virtude dos fatos supracitados, cabe ao Estado por meio do Ministério da Educação, a elaboração de campanhas que alertem a população sobre a importância do diálogo acerca da depressão e do suicídio. Isso deve ser feito através de veículos de grande circulação, como as mídias virtuais, televisivas e radiofônicas, para máxima reverberação. Além disso, delega-se ao Ministério da Saúde a missão de criar uma ação nas Unidades Básicas de Saúde, que ofereça acolhimento aos casos de pacientes com sinais de depressão, visando a prevenção para evitar o suicídio. Desse modo, conclui-se que, apenas assim, a questão será suavizada e a cólica do próximo, será do coletivo.