Ao olhar o céu

Ao olhamos para o céu noturno numa grande cidade, talvez não consigamos imaginar a grandiosidade que é o universo. A iluminação artificial das cidades ofusca o brilho dos astros celestes. Mas se resolvermos sair dos grandes centros, teremos a oportunidade de admirar a grandiosidade da via láctea, suas estrelas e alguns planetas, vizinhos da Terra aqui no sistema solar.

Um objeto que veremos é a chamada Estrela Dalva, que na verdade não é uma estrela, mas sim o planeta Vênus. É o terceiro objeto mais luminoso no céu, perdendo apenas para o Sol e para a Lua. Vênus, deusa romana do amor, da beleza.

Curioso pensar que Vênus é o planeta muito próximo da Terra e seu tamanho é aproximado ao da nossa casa. Apesar disso, há inúmeras diferenças. Vênus é quente, muito quente, por causa de sua atmosfera densa, saturada de gás carbônico. Se pensar mitologicamente, o amor é quente, e através do amor é possível gerar vida.

Podemos também ver no céu outro objeto avermelhado. Em razão de sua cor, esse planeta recebeu o nome Marte. Marte, vermelho, sanguíneo, é o deus da guerra na mitologia romana, mas também do impulso, da vontade ativa.

Ora, é Marte que será o patrono dos navegadores em Os Lusíadas, pois sua impulsividade gerará a vontade, o desejo de seguir em frente, de buscar, de alcançar, de conquistar, de vencer-se. Depois de Vênus, Marte é o planeta que mais se aproxima de nós. Mas ao olharmos para sua superfície, vemos que é um planeta frio, frio como o sentimento de guerra, de tomada, de destruição.

E assim, circundado por dois deuses, que, segundo a mitologia foram amantes, nós olhamos para cima e começamos a imaginar o que há no céu? E também podemos pensar o que dois deuses mitológicos poderiam nos ensinar?

Será que devemos apenas olhar para a impulsividade de Marte como a humanidade faz hoje? Será que devemos esquecer que todos têm a mesma constituição física? Que somos formados da mesma matéria? Que, consciente ou incoscientemente, devemos olhar para nós mesmos e descobrirmos quem somos, matéria em corpo, soprados pela centelha divina e habitados pelo espírito divino?

Será que está na hora de aprendermos o que é o amor? O amor que removeu barreiras entre as pessoas? O amor que construiu, não tórrido, mas cálido, como de Buda, São Francisco de Assis, Gandhi, Santa Dulce dos pobres, e sobretudo de Jesus, o Cristo?

Talvez entre a impulsividade fria de Marte e o amor tórrido de Vênus, surja o meio termo mais harmônico, mais equilibrado, equidistante dos extremos e que permita a vida seguir seu caminho. Talvez esteja na hora de olharmos para nós mesmos, para reconhecermo-nos como parte do Todo, e que entre os extremos a um ponto de equilíbrio onde a vida floresce, vivifica e constrói. Talvez seja a hora de nos reconhecermos.