Quinhentismo, Barroco e Arcadismo no Brasil.
Segundo Afrânio Coutinho, literatura é transfiguração associada a sentimento. Desde que o europeu cá aportou, outro homem nasceu. Afrânio inter-relaciona a literatura brasileira à liberdade.
Nesse diapasão, pode-se afirmar que o movimento literário intitulado "Quinhentismo", nas palavras de Jânio Quadros, consubstanciou a literatura dos viajantes e dos missionários. O escopo, basicamente, intencionava relatar as riquezas da nova terra ("Índias Novas") e catequizar os silvícolas - sem olvidar a moralização do português que, aqui, permaneceu.
Exemplificam essa literatura produzida nos anos 1500 o poema "Do Santíssimo Sacramento" e a Carta de Pero Vaz de Caminha. Nomes referenciais do "Quinhentismo": Pe. José de Anchieta e Pe. Manoel da Nóbrega.
Por sinal, os jesuítas tiveram papel de destaque nesse contexto histórico-literário. Aprenderam tupi, o que facilitou a comunicação com silvícolas. É um erro compreender os trabalhos jesuíticos com os olhos de hoje. Cada tempo com seu vento! Acresça-se que a catequese ocorreu (também) mediante recursos cênicos. Os índios, além de espectadores, participavam das encenações de fundo religioso - forma mais fácil de pregar os dogmas do catolicismo (religião hegemônica à época).
A partir do século subsequente, erigiu o Barroco. Esse movimento teve embriogenia nas artes plásticas e refletiu na produção literária. O termo "barroco" é de origem incerta. Não se sabe se decorre do espanhol ou do italiano. Para Jânio Quadros, o movimento foi tanto quanto criticado pois se caracterizou por dizer coisas fáceis de maneira difícil.
Transitou do divino ao profano. A claridade contrastou com as sombras. A dualidade foi seu traço ímpar. Registre-se que despontou no contexto histórico do Protestantismo e da Contra-Reforma.
Quando se fala de Barroco, não se podem olvidar o Cultismo e o Conceptismo. O Cultismo (ou Gongorismo) tinha por traço a linguagem assaz erudita. O Conceptismo (ou Quevedismo) era mais focado na retórica e no conteúdo.
No Brasil, o nome maior do Barroco foi Gregório de Matos Guerra (a "Boca do Inferno"). Com vida nada constante, de alma inquieta, escreveu poemas satíricos, eróticos e de devoção. Pagou caro por sua pena ferina. Chegou a ser isolado socialmente.
Interessante dizer que os versos em decassílabo, no Brasil, decorrem da pena da "Boca do Inferno". Sem sombra de dúvidas, o processo de construção da literatura pátria deve muito a Gregório.
O Arcadismo, por seu turno, surgiu no século XVIII como oposição aos excessos do Barroco. Sob nítida influência das Revoluções Burguesas de seu tempo e do ideal Iluminista, intencionou o resgate da pureza da língua, do cientificismo e da simplicidade. O elemento bucólico, não raro, fez-se presente.
Jânio Quadros pontuou que as academias e sociedades literárias remontam a esse período. As academias eram mais focadas no nativismo da língua. As sociedades, no cientificismo. É relevante dizer que o movimento em pauta retratou um retorno à Grécia Antiga, o que não poderia ser diferente pela influência iluminista. Em Portugal, associado está ao Classicismo. No Brasil, ao Neo-classicismo.
Vários atores históricos relacionados à Independência do Brasil, à maçonaria, enfim, à política ofertaram contributos ao movimento, a exemplo de José Bonifácio. Outros nomes: Alvarenga Peixoto, Monte Alverne.
Eis, assim, os três movimentos de relevância literária do Brasil de 1500 e dos séculos XVI a XVIII. Estudar literatura é, antes de tudo, resgatar a viva história. É abrir a mente e o coração a novos horizontes de aprendizagem, criticidade e liberdade.