A Carta

Seu sonho era cursar jornalismo na UNICAMP. Estudou , a sós em casa , todos os dias, sendo obrigado a interromper uma das poucas coisas de que mais gostava : vender salgados. Comprou a passagem aérea e foi esperar o voo na rodoviária. Já começou mal. Chegando em São Paulo , ficou indignado com a falta de educação dos motoristas dos metrôs. Acenava e nenhum parava. A caminho do local onde faria a prova , viu na janela de um ônibus, aquela que foi o seu sonho recheado, outrora em Anagé. O carvão pega fogo. Começou a queimar tanto seu coração ,que por pouco não encontra o portão fechado. No lugar de uma dissertação ,o gênero textual exigido era uma carta - argumentativa sobre algo que não me recordo no momento.

E logo na introdução , molhou a folha .

" Estou escrevendo essa carta meio aos prantos , ando meio pelos cantos , pois não encontrei coragem de encarar o seu olhar..."

E continuou desenvolvendo:

" Lembra daquele garoto , que sentou do seu lado , te ofereceu no recreio um sanduíche amassado , lembra daquele rapaz que você nem dava bola, que escrevia eu te amo nas paredes da escola.. "

Ao perceber que a folha estava encharcada , levantou , e com as lágrimas indo ao encontro da saliva , concluiu - oralmente - a redação , comovendo até o aplicador :

" Cartas já não adiantam mais, quero ouvi a sua voz, vou telefonar dizendo que eu estou quase morrendo de saudade de você : eu te amo, eu te amo ... "

A chance de Toinho do Salgado tirar nota máxima na redação é enorme, desde que o(a) corretor ( a ) seja : Eduardo Costa , Marcos & Belutti ou Marisa Monte .