Comentário de um ex-CCB

Bem, para começar vamos listar algumas afirmações.

1. Ser ex-ccb não me faz ser um anti-ccb, nem desconsiderá-la como minha primeira casa.

2. Sim. Deus abençoa pessoas dentro da CCB e eu sei que há conversões genuínas e mudanças de vida à Cristo.

3. Não. Eu não saí do Evangelho. Hoje eu sou presbiteriano e peço para que o Espírito Santo aplique diariamente a salvação que Cristo conquistou na cruz.

Tendo dito isso, eu queria dar o meu depoimento sobre como é ser um ex-CCB e como foi o processo de adaptação.

Eu me converti no ano de 2007 e me batizei também nesse ano, aos 17 anos de idade. Passei 10 anos de minha vida sendo abençoado pela minha irmandade local em Recife e vi o amor de Deus se manifestar muitas vezes na vida das pessoas que me eram próximas e na minha também. Isso com certeza alicerçou minha fé. Graças a Deus o meu cooperado era um homem bíblico que prezava pelo ensino das Escrituras e que me guiou por esses caminho quando numa certa idade eu enveredei pelo pentecostalismo alucinante [daquele que vê anjo em cada porta e simbolismo em cada folha que cai]. Com isso a leitura Bíblica sempre esteve presente na minha Igreja local, ou comum. Por que estou falando isto? Porque infelizmente na CCB tem uma cultura de “a letra mata” é isso inibe muitos irmãos em ter um conhecimento aprofundado da Palavra pelo medo de “achar que Deus pode ser estudado”. Coisa que meu cooperador ensinava a não temer, porque quanto mais conhecíamos a Deus, mais humildes nos fazemos.

Porém, as coisas começaram a mudar quando eu entrei na UFPE para cursar história.

Não. Eu não desviei não. O que me ocorreu foi que entrei em uma depressão aguda na qual reprovei um semestre inteiro. E foi nessa tormenta que Deus enviou seus anjos.

[Pois bem. Aqui vai uma crítica. Infelizmente a CCB é exclusivista. Salvação é em primeiro lugar para seus membros e os demais “Deus terá misericórdia”. Esse exclusivismo não era demonstrado apenas pela retórica, mas por fórmulas de saudação, jeito de orar, postura etc. Claro que essas fórmulas não tinham nada de errado ou herético, mas serviam para marcar a “nossa diferença” para os de fora. Um CCB chama a instituição de Graça. Inclusive em seus testemunhos eles agradecem a Deus por tê-los posto “nesta Graça Santa”. Como se Graça não fosse o favor de Deus em Cristo Jesus, mas o estar naquela Igreja específica. Isso fez com que a irmandade só considerasse irmãos os membros da igreja e não todos os salvos]

Por que esse parêntese enorme? Porque esses anjos eram pessoas de outras Igrejas. Cada um de uma Igreja diferente. Mas todos eles oravam comigo. Vinham pra me ver e lá a gente orava do nada. De pé mesmo. Coisa meio tabu pra um CCB clássico como eu. Líamos as Escrituras e isso foi alimentando minha fé. Me ajudou a passar por aquele processo depressivo e Deus nos visitava.

Foi quando descobri a Fé reformada. Passei a ler sermões dos Santos do passado. Descobri os 5 solas, principalmente o Sola Scriptura e Sola Grátia.

Mas Tiago, tu não disse que teu cooperador era bíblico? Então o que mudou? Em relação a ele nada. Mas quando você começa a ter contato mais fundo com as doutrinas da Graça, você começa a perceber que a ênfase em roupas, dons carismáticos, revelação espontânea, tira o foco daquilo que já está revelado na Bíblia. E que muitas dessas revelações na verdade eram heresias. [Já vi irmãos dizerem que um morto voltou no meio da oração pra dar recado da parte de Deus e as pessoas dizerem amém]. E uma das coisas que mais me doía era a maneira com que a CCB lida com o pecado.

Em primeiro lugar eles dividem o pecado entre pecado para morte e que não é para morte. O que não é pra morte, eles chamam de “falta”. E pecado para a morte são basicamente “fornicação e adultério”. Esses tidos como imperdoáveis e quem os faz está condenado ao inferno, mesmo que se arrependa e leve uma vida de santidade. Ora, a Palavra nos diz que todo pecado é uma afronta a Deus é todo pecado gera morte. Porém a Graça de Deus atua na regeneração do homem e o Espírito de Deus aplica em nós a obra de Salvação. Porém isso não impede que o ser humano caia, porque enquanto estivermos no corpo conviveremos com a carne, o diabo e o mundo pra nos separar de Deus. Porém o Deus Triúno preparou a disciplina para que os Seus não se percam. Como demonstra Mateus 10 e Hebreus 12.

Acontece que aqueles que “pecam”, muitas vezes são escanteados e ninguém cuida deles. Poucos são os que chamam pra congregar. E muitos não se sentam perto deles. E isso doía. Porque o Cristo que se revela na Bíblia salva pecadores sem eles merecerem. E trabalha neles e garante a chegada deles à Gloria. Em João 17 ele garante que não lançaria os eleitos fora.

Tudo isso começou a afetar a maneira como eu cultuava. As pregações agora não desciam como antes. Eu estava muitodo mais atento às verdades Bíblicas que as “revelações” em si. Cada dia mais eu buscava mais a Bíblia e se a Palavra era só “Deus me mostra” eu não cria. De que me edifica saber de RG dos outros?

Aí me mudei pra SP E comecei a ir nos estudos Bíblicos da Presbiteriana. E cada vez mais eu percebia que Deus estava fechando um ciclo na minha caminhada. Principalmente quando li O verdadeiro evangelho do Paul Washer. Foi quando entendi o que era a Expiação. Aquilo me deixou em choque. Como eu poderia ousar dizer “se eu tenho crédito com Deus”; “se for firme e fiel, herdarei a coroa da vida”? Não! Foi por Graça! E Graça não era estar congregando na CCB, mas crer em Jesus.

Cada vez mais minha mente não estava mais na igreja, na verdade Igreja só a invisível. Mas aquela em que eu estava não me preenchia mais. E a parte triste é que com isso muitos irmãos começaram a me desprezar. [Sim, ser bem acolhido conta. Eu não vejo a Deus, mas vejo os meus irmãos e se neles as ações de Cristo se manifestam, ali habitará presença Dele]. De virar literalmente as costas pra mim. Foi quando em 2017 eu decidi sair e congregar na Igreja reformada.

Foi uma mudança e tanto. Mas Deus tem nos ajudado tanto a mim quanto a minha esposa. Sinto falta de tocar minha flauta, não minto. Mas o bom é ver a Graça operando em nós.

Pra terminar. Tudo o que peço a Deus é que a CCB deixe de ser exclusivista e passe a cuidar dos seus caídos e que se foquem nas Escrituras mais que nas revelações. Mas que o Senhor mantenha vivo o espírito comunitário no meio deles. De resto, só isso.

Fico com a reflexão que um amigo meu fez. Deus te abençoou muito na CCB, mas agora Deus tem preparado outras coisas e isso não anula as coisas boas no passado. Apenas são outras coisas que Deus está preparando.

Que a Graça e a Paz alcance todos.