Invisibilidade persistente (Modelo Enem)
A questão da invisibilidade da população de rua pode ser ilustrada por uma frase de Brás Cubas em "Memórias Póstumas de Brás Cubas": "suporta-se com paciência a cólica do próximo". Apesar de ficcional, no atual contexto, o impasse se conurba à indiferença esboçada e preocupa, pois une-se a morbidez do Estado ao preconceito social por parte da população, que conjuntamente, assolam a existência de quem já não é visto como indivíduo. A fim de mitigar a problemática, urgem medidas eficazes.
Em primeiro plano, no que concerne a morbidez estatal, vale ressaltar, por exemplo, o ocorrido em São Paulo, cujo ex-prefeito João Doria implementou uma série de medidas que agravavam ainda mais o sofrimento de quem já não tinha um lar, com ações como "jato de água fria" em locais que os moradores de rua dormiam, ou "tirar o cobertor" destes. Depreende-se disso, que em vez de visar a reintegração dessa parcela social, de forma, por vezes, antidemocrática, o Estado - a exemplo do caso referido -, deprecia e torna preponderantemente penosa a vida de quem já é invisível socialmente.
Em segunda análise, no que tange o estigma da sociedade sobre a existência dos moradores de rua, tal preconceito pode ser explanado através da História brasileira, por meio do pensamento de um dos maiores pilares do direito construído no país - Ruy Barbosa -, que defendia a ideia de que os moradores de rua eram inaptos ao voto, pois não possuíam o discernimento necessário para poderem identificar o bem comum, tal como um cidadão letrado e proprietário de algo. Apesar dos vários aspectos que confluem na mesma perspectiva de Barbosa, o morador de rua, finalmente, pode votar. No entanto, possui muitas dificuldades para exercer seu direito, como o aspecto burocrático no que diz respeito à documentação, além de enfrentar os olhares reprovatórios de parte da população, que só pelo fato de não se apresentarem limpos e com odor aprazível à estes, já são tratados com hostilidadede. Denota-se, que a noção depreciativa sobre essa população persiste e pode ser percebida em diversos contextos, por mais que a democracia brasileira reconheça-os como cidadãos, ainda existe resistência contra essa acepção.
Infere-se, portanto, que em virtude dos fatos supracitados, cabe ao Ministério da Cidadania a elaboração de campanhas com o intuito de reintegrar essa parte social, com parcerias público-privadas com o setor de construção civil, visando a criação de moradias populares. Urge também ao Ministério da Educação dar apoio na criação de ações sociais feitas pela própria extensão universitária, que deve direcionar diversos profissionais em formação para ouvir a população de rua e levar serviços de atenção básica, biopsicossocial. Isso deve ser feito em consonância com atividades direcionadas à população local, visando desmistificar concepções retrógradas sobre o processo de vulnerabilidade social, a fim de cooptar voluntários para solidificar o projeto das extensões. Dessa forma, por conseguinte, estima-se que apenas assim, o impasse será mitigado e a frase de Brás Cubas será gradualmente desconstruída e usada para alertar os influenciados sobre a importância de se ter empatia.