Vitória e resistências (Modelo Enem)

Vivien Thomas foi um importante contribuinte de técnicas cirúrgicas determinantes para o avanço da medicina contemporânea, no entanto, nunca pôde se formar oficialmente numa faculdade de medicina, pois teve seu talento sufocado pelo preconceito racial. No cenário brasileiro, apesar de conquistas relevantes, o estigma com o negro faz com que suas vitórias sejam tardias e desvalorizadas quando o país passa por algum contexto de crise política. A fim de mitigar a questão, urgem medidas eficazes.

Em primeira análise, é crucial trazer a questão abolicionista brasileira, que só obteve êxito no final do século XIX, tardiamente, quando comparado com outras nações. O legado desse processo foi ainda mais devastador, pois o negro não teve o suporte do Estado para seu processo de integração social, ao contrário disso, recebeu a alforria e presenciou sua possibilidade de ascensão ser cooptada pela mão de obra europeia, visto que no final desse processo, vigoravam visões preconceituosas, cujo sustentáculo eram as filosofias eugenistas, o que agravou substancialmente o estado de exclusão social do ex-escravo, órfão de direitos cívicos. Depreende-se disso, que o processo de marginalização dessa parcela populacional, foi acompanhado da cruel perda de espaço em convergência com o recrudescimento do estigma social, que foi fomentado pelas correntes filosóficas da época, que colocavam o negro como um perigo, alegando que este, inclusive, possuía predisposição à criminalidade, dentre outros absurdos.

Em segundo plano, as diversas crises políticas que o Brasil passa ao longo dos anos, cria situações de insegurança no que concerne as conquistas dessa classe. Fato que ilustra o ocorrido, pode ser visto na política de cotas, que possui um significado de luta por justiça social, sustentada pelas ações sociais, visa a integração do negro no ensino superior. No aspecto da fragilidade em momentos de transições governamentais, um exemplo do desrespeito ao direito à Lei de Cotas, ocorreu na última edição do "Sistema de Seleção Unificada" (Sisu) do ano de 2019, em que vários estudantes do curso de medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, foram expulsos por terem fraudado as vagas reservadas às cotas raciais, muito disso ligado à relativização da validade da dívida histórica com o negro, embasado no viés ideológico bolsonarista. Denota-se, que em situações de transição política, as lutas dessa parte, são postas em cheque, e muitas delas são desrespeitadas sem nenhum receio.

Infere-se, portanto, que em virtude dos fatos supracitados, cabe ao Ministério da Educação recrudescer a validação fenotípica dos estudantes aprovados nas vagas reservadas, visando evitar fraudes, através de uma comissão de verificação feita pelas próprias universidades. Ademais, cabe ao Ministério Público, investigar as irregularidades nos processos seletivos, buscando a punição dos infratores. Dessa forma, por conseguinte, estima-se que apenas assim, a questão será mitigada, e a história de Vivien Thomas não será repetida no Brasil, a não ser no tocante à contribuição que o negro pode dar na produção científica.