Cacique formado na USP realiza sonho e passa em 1º lugar para o mestrado
Ubiratã Jorge de Souza Gomes, que vive na Aldeia Indígena Bananal, em Peruíbe, estava tentando se tornar um mestrando desde 2013.
O cacique Ubiratã Jorge de Souza Gomes passou em primeiro lugar no processo seletivo para o mestrado em educação da Universidade Católica de Santos (UniSantos). Ele é formado em pedagogia pela Universidade de São Paulo (USP) e estava tentando se tornar um mestrando desde 2013.
Mesmo após passar em todas as fases do mestrado na USP, ele foi barrado na entrevista. Recentemente, ele fez parte de um grupo de trabalho voltado à educação na própria universidade e, com o projeto aperfeiçoado, decidiu tentar novamente. Dessa vez, em Santos, com direito a uma bolsa integral pelo bom desempenho.
"Para mim é a realização de um sonho. Não só por poder dar continuidade aos meus estudos, mas sabendo que o projeto de pesquisa vai alavancar nossa educação", diz. O projeto de pesquisa de Ubiratã propõe um currículo específico para a educação indígena e tem como base sua própria experiência de 15 anos como professor.
Aldeia - cidade
Ubiratã trabalha há dois anos na Diretoria de Ensino de São Vicente e é responsável pela educação escolar indígena, que abrange 15 escolas localizadas entre São Vicente e Peruíbe.
Desde que nasceu, ele vive na Aldeia Indígena Bananal, em Peruíbe, e leva aproximadamente duas horas no trajeto até o trabalho. O local é uma das aldeias mais antigas da região, com aproximadamente 300 anos, e abriga 12 famílias.
Depois que sai da aldeia, Ubiratã só retorna no período da noite. "Eu acordo às 4h, saio da aldeia e pego o ônibus das 5h50 para chegar no trabalho às 8h. Eu saio com as estrelas e volto com elas”, diz.
Apesar da rotina cansativa, ele diz que continuará vivendo na aldeia onde nasceu. "Eu herdei a liderança do meu pai. Ser líder é não pensar muito em você mesmo, é pensar no bem-estar do coletivo. Apesar dos obstáculos, a minha satisfação é chegar na aldeia".
Ubiratã conseguiu bolsa integral para cursar mestrado em educação na UniSantos.
Educação indígena
A educação escolar indígena é de responsabilidade do Governo do Estado. Os professores recebem um currículo e, a partir daquela base, fazem adaptações de acordo com a cultura de cada etnia. "Além de ensinar a história do Brasil e outros países, trazemos a conversa sobre a história da aldeia e do povo. Trabalhamos o conhecimento, falamos de utensílios como o arco e flecha”, diz.
Segundo Ubiratã, uma das maiores carências nas escolas indígenas está na formação dos professores, afinal, a maioria não têm curso superior. O cenário deve mudar nos próximos anos. Recentemente, 40 indígenas da região se matricularam gratuitamente em cursos de licenciatura oferecidos no litoral de São Paulo – sonho antigo de Ubiratã. "Está sendo um ano de conquistas", finaliza.
O vestibular indígena é outro sonho de Ubiratã que se concretizou neste ano.