Coletor de lixo monta biblioteca com livros descartados e ministra palestras em escolas
Graduando em História, o acervo do Luciano conta com cerca de 200 obras, todas guardadas em sua pequena casa, fora as que ele doa e empresta.
Vocês fazem ideia de quantos livros são descartados diariamente?! Pois bem, em menos de dois anos e meio de profissão, o coletor de lixo Luciano Ferreira de Lima, 37 anos, de Sorocaba (SP), já coleciona em sua pequena casa cerca de 200 livros e todos foram encontrados nas lixeiras das ruas. Isso mesmo!
Enquanto para alguns o livro pode não valer nada, para o Luciano é ouro. O valor que ele dá as essas obras descartadas é lindo de ver e ele se tornou um grande exemplo para os filhos e jovens nas escolas em que ele é convidado a palestrar e contar a sua incrível história.
Desde fevereiro de 2017, o Luciano trabalha como coletor de lixo, o emprego surgiu numa fase em que estava desempregado e com grandes dificuldades para conseguir sustento à família. Ele é casado e tem dois filhos, um de 10 e outro de cinco anos.
“No começo foi difícil, eu não me alimentava bem e sentia fraqueza nos percursos. Mas eu ainda acho inúmeros livros no lixo, e os meus companheiros de trabalho quando acham, me dão. Hoje eu ganho também alguns de presente”, contou.
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Coleta de livros
E foi durante o novo emprego que ele começou a identificar os livros nos lixos. Essa atitude começou a ser notada pelos colegas de trabalho e pelas pessoas nas ruas.
“Eu acho o livro, levo para casa e dou uma reformada. Eu li já centenas de livros, autores conhecidos. Gosto de ler bastante história e obras científicas. Para mim, todo livro, independente do autor, gosto de ler, sempre tem algo a nos ensinar. Eu não julgo o livro pela capa não”, disse.
Hoje, a casa do Luciano que é bem humilde, tem dois cômodos e já foi tomada pelas obras.
“As pessoas que descartam o livro, poderiam doar. Mas se a pessoa tivesse a mentalidade de que o livro é uma arma poderosa para a educação, que ele pode mudar a vida de outras pessoas, acredito que ela pensaria duas vezes antes de descartar o livro”, relatou.
Sua história
Luciano passou por momentos difíceis em sua vida, começando pela dura infância, numa família com nove irmãos. Quando ainda criança, a mãe faleceu e o pai se tornou alcoólatra. Diante das circunstância, aos 11 anos, teve que abandonar os estudos.
Na adolescência, se envolveu com as drogas e com a criminalidade. A falta de empregou o levava a realizar furtos, até ser detido, susto que o fez repensar sobre a vida.
“Assim que sai do presídio, eu saí focado em mudar de vida e de estudar.”
A volta aos estudos
No início de 2004, ele retomou os estudos e fez supletivo. Desempregado e morando longe da escola, todos os dias ele percorria a pé 12 quilômetros para estudar.
“Até que um dia a professora me chamou e me deu uma bicicleta de presente. Ela tinha sido comprada com um dinheiro arrecadado por todos os alunos. A partir disso, eu ganhei mais incentivo.”
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“Hoje sou apaixonado pelos livros”
O Luciano relatou que não tinha o hábito da leitura, mas que adquiriu isso quando voltou a estudar em 2004 no supletivo.
“Eu tinha muita dificuldade com a escola, eu era uma pessoa extremamente tímida. Tinha vergonha de perguntar. Eu tinha uma má escrita, não falava bem. Foi então que a minha professora de português da época, a Sueli, me chamou para conversar e disse que para que eu tivesse um progresso na escrita e na fala, a leitura me ajudaria muito, e que eu aprenderia a me expressar melhor. E eu adotei esse hábito, foi então que aprendi a gostar de ler”, afirmou.
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‘As escolas devem formar pensadores’
Atualmente, ele realiza palestras nas escolas da região, e o seu propósito é mostrar para os jovens a importância do conhecimento.
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“Eu digo a eles que hoje em dia a escola não é mais o lugar de arranjar emprego, como os nossos pais falavam. Na verdade, a escola nunca foi para isso. A escola é um lugar que forma cidadãos, formadores de opinião”, disse. “É através do conhecimento que conseguimos enfrentar os desafios do cotidiano, com ele, nos tornamos iguais e levo isso na periferia, não importa se você é pobre, se você tem conhecimento, você tem tudo.”
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De coletor de lixo para professor de história
Luciano está graduando em história e ele enfatiza que só conseguiu isso graças ao conhecimento: “Quem tem conhecimento, não importa onde está, consegue tudo”.