Museu Nacional (Brasil) versus Catedral de Notre-dame (França)

No dia quinze deste mês, uma das mais famosas catedrais do mundo ardeu em chamas, o que gerou uma comoção global. Jornais do mundo inteiro começaram a falar da catedral, sua importância histórica e o que o mundo perdia com ela a ser consumida pelo fogo.

Tempos antes, no dia 2 de setembro de 2018, em terras brasileiras, o Museu Nacional também foi consumido pelo fogo, causando, no entanto, muito menos agitação — mesmo a imprensa dando destaque ao fato em "flashes" de notícias. Para vários brasileiros — e mesmo pessoas ao redor do mundo —, foi por meio das notícias que ficaram a saber da existência não só da instituição como, também, um pouco de sua história e a importância dele para o país.

Falou-se muito, por um determinado tempo, sobre o "desrespeito" para com museus brasileiros; "youtubers" pediam para que começássemos a visitar mais essas instituições; diversas pessoas pediam soluções rápidas para que outro desastre desses não voltasse a acontecer... e acabou por aí. A agitação passou e ao Museu Nacional restou ser reconstruído aos poucos — com algumas poucas doações.

Com a catedral de Notre-dame, no entanto, ocorreu o inverso: bilionários realizaram doações exorbitantes para a reconstrução da igreja e logo foram criticados por isso. Vários jornais perguntavam-se: "Se a pessoa tem tanto dinheiro para realizar uma doação dessas, por quê, então, ela não auxilia para diminuição da pobreza, no mundo?" No Brasil, a imprensa perguntava-se por que os "endinheirados" daqui não faziam o mesmo para o Museu.

Em primeiro lugar, Brasil e França têm muitas diferenças não só culturais como históricas. Como já dito, muitas pessoas nem sequer sabiam da existência de tal museu, nem muito menos sua importância para a nação. Isso é tão verdade que só voltou a se falar de ele quando as televisões mostraram o fogo consumir a catedral francesa. Já Notre-dame, graças a filmes e livros — tanto literários quanto de História —, é praticamente um "patrimônio cultural e material terráqueo", sendo conhecida mundo a fora — inclusive por aqueles brasileiros que só souberam da existência do Museu Nacional por meio dos jornais.

Depois, é inegável o quanto o francês valoriza sua pátria, muito diferente do brasileiro. Nelson Rodrigues, mesmo, já dissertou a respeito disso e deu um nome: "Síndrome do Vira-latas". Então, seria mesmo surpresa Notre-dama receber tantas doações assim e o Museu acabar ao léu? Sem contar que, na França, os "endinheirados" que doaram para a reconstrução da catedral poderão deduzir até 60% desse valor de seu Imposto de Renda.

Por fim, é importante salientar que as doações francesas tiveram origem particular e não vinha de impostos. Como dito, quem doou acabou duramente criticado por alguns veículos de imprensa, questionando o porquê de eles não doarem suas fortunas para diminuírem a pobreza no mundo. Outro questionamento cabe em cima dessa mesma pergunta: "Então, por que aqueles que perguntaram isso não dão o exemplo e doam todo o seu salário ao pobres?"

Concluindo, o Museu Nacional e a catedral de Notre-dame não devem ser comparados porque, como já dito, ambos possuem histórias e situações completamente diferentes. No Brasil, a tragédia já se vinha anunciando e ninguém simplesmente deu atenção. Na França, há a possibilidade do incêndio ter começado por conta de um ataque terrorista — e não pelo abandono. O lado "bom" dessa história foi a de que "tocados pelo exemplo francês", diversas empresas agora estão a destinar parte de seus lucros para a reconstrução do Museu Nacional. Que no futuro não se precise mais de um exemplo estrangeiro para lembrar-mos de valorizar aquilo que é nosso.