A jornada de um espírito (Cap. I)

No dia 06/2/2019, começava o trabalho mediúnico, num centro espírita reconhecido pelas muitas bençãos já derramadas em prol de muitos corações, a história que vou relatar aqui não é sobre o médium e sim sobre o espírito que com ele travou vários diálogos.

Aqui retratarei os diálogos, as dúvidas e as dores desse médium e principalmente a história revelada por esse espírito sofrido e magoado consigo mesmo e com as escolhas que fez ao longo de múltiplas encarnações.

A prece sentida do médium, começa assim: "Pai que a vontade soberana em vos servir envolva a todos nós.

Senhor tenho tão pouco para dar, mas que esse pouco possa servir na edificação do vosso trabalho de amor, que assim seja!

Oh! Senhor! Que possamos servir aos nossos irmãos hoje, amanhã e sempre em teu nome Pai!

Que o senhor nos oriente para melhor servir!"

Após todos os preparativos, um espírito se aproxima, o médium que ouve sua voz, escreve sua fala.

O espirito falava tranquilamente: "Na noite mais longa, na hora mais sombria, nunca se esqueça que o Pai e os amigos espirituais estão contigo, não há um só dia de solidão na Terra, anjos te guardam dia e noite, não há desamparo, dor e sofrimento que não esteja amparado pelo infinito amor de Deus e suas soberanas leis."

Em seguida falou enérgico com o médium: "_Pare de racionalizar! Sinta apenas."

Os dias passam ligeiros, as noites são atormentadas, o médium começa a enfrentar problemas em seu lar, que vão se avolumando no decorrer dos dias.

No dia 13/2/2019, o médium prossegue em suas preces, inspirado nas lições que chamam a atenção para: "O pensamento é vivo, e age em cima do objeto do desejo e volta para aquele que o emitiu."

A prece silenciosa que profere naquela noite para si mesmo, diz assim: "Senhor, Deus que eu possa te buscar como o publicano e de olhos voltados ao chão eu possa suplicar: Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador, mas dizei uma só palavra e minha alma será redimida!"

Depois de algum tempo e de alguns atendimentos o médium ora: " O senhor é meu pastor, caminha comigo no vale sombrio da morte e me conduz à verdes campos, de águas tranquilas,..."

Após alguns instantes, ouve um relato, que passa a escrever freneticamente, para não perder, nenhuma palavra.

O relato feito é esse:

"Eu fui escravo nas terras africanas, vim no navio holandês, entregue em um porto clandestino no Nordeste, fui levado para um engenho, de lá fui levado para o MT, mas ainda não era assim chamado, não me deixaram lá, o medo tomou conta de mim, então segui com meus algozes para o Sul, a região de castigo, trabalhando nas fazendas de charque, o sal feria meus pés, mãos, as rachaduras sangravam sem parar. O frio doía, a saudade doía, sonhava com o céu estrelado e sempre me via na casa de poder em Roma, era livre, minhas mulheres tão lindas, tenho filhos, casa grande, flores, jardins, sempre que sonhava com esse lugar eu sofria, fui castigado, o sal foi colocado em minhas feridas. Eu queria ser livre, vou fugir, mas já apanhei tanto que não posso mais ser pego, então decidi fugir de vez, peguei uma corda, prendi na viga e fiz força com o corpo, morri e não morri.

Os outros vieram, me pegaram, um tribunal, pensei, mas não era, era só sofrimento e dor, muitos anos se passaram sem que eu pudesse voltar, não conseguia sair de lá. Me acusavam de escravizar, mas eu era o escravo.Gritei, mas ninguém me ouviu, um dia, depois de muito tempo eu me lembrei de minha mãe e da oração que ela me ensinou lá na África.

Era assim: "Viemos do Grande Rio, e como gotas de chuvas caímos na Terra, e no tempo do grande Sol, floresceremos um dia na Terra..." e foi com surpresa e com forte emoção que vi chegar até mim, uma senhora, ela era branca, mas eu sentia como se fosse minha mãe da África e em seus braços adormeci, para acordar num lugar de beleza e tranquilidade. Lá aprendi muito sobre tudo e durante muito tempo tenho esperado para avançar, o medo me impediu de reencarnar, os meus já se foram para outros mundos, mas eu fiquei e agora me preparo para renascer novamente na Terra do Cruzeiro, berço bendito, onde muito sofri, e expirei na profunda covardia do suicido.

Sei o que pensa, mas Deus é de misericórdia infinita, voltarei sem sequelas, mas com o compromisso de fazer todo o bem que puder, tem 60 anos que me preparo para esse momento, devolverei a justiça Divina todas as moedas multiplicadas, meus amigos não são pequenos, são grandes e se eu vacilar eles tem autoridade para retirar de mim todas as possibilidades...

Não tenho nome e mesmo que tivesse ele nada diria a você, mas virei em nome de Jesus e esse você conhece, lembra-se?!

Por hoje basta! Fique com Deus, a noite te mostrarei."

Nos três últimos parágrafos desse relato, o espírito se dirigia diretamente ao médium, que questionava mentalmente enquanto escrevia o que ouvia.

Continua...