Divina viagem

Sou um purista a respeito da arquitetura naval. Provavelmente não um purista, mas um nostálgico. Penso em velames, cabos, amarras, bombordo, boreste, proa, popa. Mares bravios, ventos uivantes (obrigado Emily Brönte) e clássicos capitães em túnicas azul marinho double-chested.

Embarquei em Santos em um desses esplendorosos resortes flutuantes. Descrever o luxo será irrelevante. Todos já têm uma idéia de tantos filmes sobre o tema. Acreditem, é assim mesmo.

O tratamento dispensado pelos tripulantes aos passageiros beira a algo como ser o morador do Buckingham Palace.

Entretenimento e refeições (algumas sofisticadas) a todo momento. Tudo de primeira. Mesmo os entretenimentos.

Réplicas similares dos espetáculos do Cirque du Soleil, musicais roliudianos (sic!), até mesmo a Traviata em toda sua glória verdiana. Figurinos ricos e de muito bom gosto.

A decoração do anfiteatro nada tinha de um Metropolitan, mas tão atrevida com o Guggenheim de Bilbao com suas poltronas parecendo um campo de tulipas.

Meu grupo de amigos, ficaram conhecidos dos garçons e garçonetes de variadas nacionalidades e gentileza igual. Éramos conhecidos em todos diversos night-clubes e bares que floresciam a cada "esquina".

As ditas noites de gala, foram quatro, ocasiões em que os passageiros entravamem na teatral fantasia de requinte e luxo. Era inebriante ver as mulheres do nosso grupo refinadamente elegantes.

Aqui, gostaria de comentar o quanto o homo-brasilis é mal vestido.

Notei que a maioria masculina brasileira nessas noites de gala se vestiam elegantemente com os mesmos ternos que vão trabalhar. Já os estrangeiros tinham uma roupa mais adequada a um cruzeiro pelo Caribe. Neste quesito, nossas mulheres deram um show de beleza e graciosidade.

Nós, marmanjos, apreciávamos ficar na sombra, observando nossas mulheres (e outras) na extensa piscina infinita na popa, bebericando nossos daiquiris e uma seleção de mais de trinta tipos de cervejas. Experimente uma Blue Moon (belga) que vem servida com uma fatia de laranja como manda o figurino. Tal como a Corona com o limão.

Este que lhes relata e outro amigo fazíamos visitas ao cassino quase todas as noites. Saldo positivo de duzentos e trinta cinco dolares fora os dez que deixei com a bela croupier filipina.

Vinhos finos a preço razoáveis. Posso afirmar que mais baratos e com a qualidade igual ou melhor dos servidos em nossos restaurantes dessa terra-brasilis.

Sou um fã de conhaques. Não vou aqui me alongar sobre a degustação deles. Variei de regiões bebendo-os a dose por oito dolares. Costumava também variar de marcas de uisque também pelo mesmo preço. Inclusive o Laphroaig. Se, meu caro leitor/a for um apreciador, sabe do que estou falando.

Seis dias depois chegamos a primeira ilha do Caribe. É aquilo mesmo que todos já conhecem ou viram em filmes e revistas. Praias de areias alvíssimas e água azul clara.

Mas, parece que estando numa, as outras se repetem.

No Caribe a escolha é ficar nos resortes ou ficar nos resortes. Tente andar pelas redondezas a um sol de trinta Celsius e encontrar um bar.

Mesmo assim, viveria o resto de meus dias nas Ilhas Cayman.

O Caribe me pareceu como aqueles eruditos cheios da beleza do conhecimento, mas que nada criam e com o passar do tempo viram ruinas.

Não existe poesia na mesmice da beleza geografica. Foi assim minha impressão da Jamaica.

Enfim, chegamos em Miami e amigos nos levaram a residencia deles em Fort Lauderdale.

Parecia que de lá, passando por Miami e Key West, até a primeira ilha do Caribe que aportamos, estávamos pisando na mesma areia branca e mergulhando em águas azuis cristalinas.

E com bares florescendo a cada esquina, ao menos.

Bom, isso é outro capítulo.