Quo Vadis?
 
Uma lufada de vento gelado me tira de pensamentos recentes. Estou só e navegando pra lugar algum.
Esqueço o rigor do tempo. A integridade do barco não importa mais.
Entrego-me aos murmúrios e confidências que o vento traz, num sopro de lembranças suas.
A garrafa de rum está quase no fim.
Abraço-me, trôpego e inseguro, ao timão da embarcação. Mantenho, sem muita certeza, o leme em direção ao horizonte.
Pra qual lugar? Não importa mais.
As gaivotas, com seus gritos estridentes, lembram que é quase hora do sol se por.
A lua, tímida, começa a exibir seu vestido brilhante e flutua num céu coberto de nuvens, como se tivesse acabado de chegar a um baile sem ter sido convidada.
As ondas estão mais altas! Quase não consigo manter-me de pé. O barco está vazio. Estou sozinho, muito só.
A mente me mostra sua última imagem. Você estava linda e com a pele mais pálida que o normal, parecendo irradiar uma luz, de raro brilho, com uma pequena lágrima no rosto.
Foi a sua maneira de me dizer adeus.
Continuo buscando o horizonte. A garrafa está vazia. A emoção toma-me a alma e começo a soluçar.
Embriagado e certo de que não vai voltar, falo o seu nome sem parar e tenho a sensação de que o vento começa a repetir o que digo.
Talvez, se conseguir manter-me de pé, eu possa encontrá-la, naquela linha distante, lá longe.
Sinto tanto a sua falta!
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 18/10/2018
Reeditado em 20/10/2018
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