No meio do caminho, as pedras... reflexões e descobertas acerca do Chamado caminho do antigo Cais imperial” de Sepetiba
Como sabemos, o bairro de Sepetiba possuí uma rica história, patrimônios e riquezas que merecem ser difundidos e preservados, entre essas riquezas, entre estes patrimônios, um é especial, especial por se tratar da construção mais antiga ainda de pé no bairro, especial por ter sido determinante no processo de Redescoberta dos moradores e reconhecimento, especial por ser responsável por colocar novamente o bairro em evidência e provocar a curiosidade e interesse de diversos visitantes, falamos do “Caminho do antigo cais imperial”.
Este “caminho” de pedras que chamamos de “Caminho do antigo cais imperial” teve sua construção iniciada no ano de 1884, mesmo ano em que foi estabelecida a Companhia Ferro Carril, fazendo o trajeto Santa Cruz / Sepetiba com o bonde de tração animal, levando passageiros até o “Porto de Sepetiba”, as obras do Caminho do antigo cais foram concluídas no ano de 1885, inicialmente teria aproximadamente 585 metros de comprimento, terminou tendo 700 metros. (Jornal do Commercio de 13/02/85)
Esta construção, exerce um fascínio, uma admiração sem igual, provavelmente é uma das últimas da cidade do Rio de janeiro que ainda mantém sua estrutura semelhante ao período em que foi erigida, resistiu à força das marés, ao tempo, ao vento. Ao nos aprofundarmos acerca desta construção, descobrimos sua importância, este “caminho” ligava a praia de Sepetiba a então Ilha da pescaria, ficou ativo do período jesuítico até o fim do império. Muito embora só tenhamos informações das atividades do chamado porto de Sepetiba, localizado na então Ilha da Pescaria a partir do século XIX, há relatos que falam de atividade no local, transporte, embarque etc., ainda no século XVII.
Neste porto ou Cais embarcaram personagens ilustres e importantes para a formação da história da cidade e do país, ele também foi responsável pelo desenvolvimento da Fazenda Santa Cruz e mesmo do povoado de Sepetiba, viabilizando a comunicação e comercio à época. Durante a Revolta da Armada, a Ilha da pescaria, que iria mudar de nome em breve, foi palco de uma tragédia, no ano de 1893 ou 1894, dependendo da fonte, foram sumariamente fuzilados, no final da tarde de um dia do mês de Setembro, 22 rapazes entre 18 e 20 anos, sem julgamento, entregues ao comandante do Lamego, Tenente Honorário Abreu e ao capitão Marcus Curius, e segundo os relatos, ao desembarcarem na ponte de Sepetiba, que ficava na Ilha da Pescaria, dois deles foram mortos. Triste acontecimento que foi determinante para o nome desta ilha tornar-se Ilha do Marinheiro.
O nosso Caminho do antigo, que deveria ser chamado de Molhe, por sua constituição, que não se assemelha a cais, está situado bem em frente onde encontrava-se o Forte de São Pedro, onde hoje temos o Radar da ALA 12 , antiga Base aérea de Santa Cruz, aliás, cabe ressaltar que a área do caminho do antigo cais ou molhe é de responsabilidade da ALA 12/ BASC Santa Cruz, necessitando de autorização da mesma para acesso. O forte de São Pedro foi construído no ano de 1818, e junto ao caminho do antigo cais possuíam uma função estratégica para defesa da baía. Em Sepetiba existiam três fortes, o de São Pedro, o de São Paulo e o de São Leopoldo, todos foram construídos para segurança da baía.
É interessante destacar que alguns estudiosos, como Fania Fridman afirmam que Duclerc teria desembarcado na Ilha da pescaria, e este é mais um dos fatos que precisamos comprovar, mas podemos levar em consideração a construção destes fortes devido a esta “visita” que causou temor a Dom João. O povoado simples, de remanescentes caiçaras, em decreto de 1813 seus sitiantes receberam terras doadas pelo próprio Dom João VI, foi tablado de encontros importantes, despertou o interesse de naturalistas estrangeiros, botânicos, antropólogos, geólogos, pintores, mas manteve sua simplicidade, quando a companhia de Navegação Rio – São Paulo começou a administrar a linha de bondes e a Navegação Santa Cruz com os famosos vapores, que levavam passageiros para Itacuruçá, Mangaratiba, Angra dos Reis, Paraty e Santos as coisas começaram a mudar, o pacato povoado ficou mais movimentado.
São tantas coisas para falarmos sobre Sepetiba, sobre este Recanto da Zona Oeste segregada, como chamamos a Zona Oeste depois do Túnel, que um assunto emenda o outro e quase nos perdemos! Estamos falando do icônico caminho do antigo Cais imperial ou Caminho do antigo molhe imperial.
No ano de 2017, Sepetiba recebeu um presente, através da aprovação do projeto de lei apresentado pelo vereador local, o Ecomuseu de Sepetiba expôs ao vereador um relatório explicando a importância do Caminho do antigo cais imperial, e a relevância do tombamento enquanto local de interesse histórico, arqueológico, cultural e ambiental, contamos com o auxílio do arqueólogo Cláudio Prado de Melo que nos deu o parecer acerca da importância arqueológica do local. Notícias acerca do tombamento saíram na revista Veja e em outros jornais, e isso é motivo de muito orgulho!
Este Caminho foi primordial no período do império e na atualidade, foi de suma importância porque através dele eram transportadas as produções de café, açúcar etc., que vinham de Minas Gerais, por exemplo, com destino à Europa, no fortalecimento e ampliação da Fazenda Santa Cruz tanto no período jesuítico como no imperial, por ele passou a mala real, o quinto do ouro, nobreza, e hoje este caminho foi o responsável por um “despertar” da comunidade, que parecia adormecida, e a partir da disseminação da história local e da realização de passeios periódicos por este caminho vem transformando os seus discursos e revigorando a autoestima enquanto moradores, orgulhosos de fincarem raízes num recanto aprazível, histórico, e percebemos que de nós depende o encanto daqui!