VENEZUELA, A PEQUENA VENEZA, SEM GÔNDOLAS E SEM CHARME!
"A função do Estado social é de garantidor da paz civil. Ele está acima dos homens, como beneficiário dos direitos dos cidadãos. Os cidadãos são para o Estado, súditos. O Estado tem o poder soberano. Todavia, apesar do súdito ter que obedecer a tudo que o estado soberano mandar, existe uma exceção: o súdito pode resistir à ameaça da morte. Esta exceção tem uma explicação simples, como poderia o homem não conservar sua própria vida, seu bem intransferível, já que o poder do soberano vem da razão reta, logo, advinda do instinto da auto conservação? Seria uma incoerência. Assim sendo, todos os homens têm o direito de resistir a qualquer ato do Estado social que ameace a conservação da sua vida". (Thomas Hobbes - O cidadão)".
Historiadores afirmam que o navegador italiano Américo Vespúcio, em 1.499, olhando extasiado o Lago de Maracaíbo, se impressionou com as muitas palafitas indígenas e lembrando da sua terra natal, exclamou: pequena Veneza!
A Venezuela de hoje é um país destroçado, cenário de uma terra arrasada que lembra o filme "Mad Max", no qual faltava tudo, água, recursos naturais, alimentos, transformando a sobrevivência em um desafio diário de todos contra todos, como no Leviatã de Thomas Hobbes, mas, com uma diferença substancial e intrigante, a Venezuela está assentada sobre um solo rico em petróleo, também possui fartura em recursos naturais, todavia, a população é pobre, paupérrima, miserável; como pode isso?
No caso, ao que tudo indica, a riqueza do "ouro negro" que jorra na pátria Venezuelana, ao longo da sua conturbada história, trouxe mais prejuízos ao povo do que benefícios, pois nunca permitiu o amadurecimento político e institucional do país, gerando corrupção e ganância e impedindo a pulverização do PIB nacional em outros fundamentos, como a indústria e a pesquisa, até a agricultura nunca se solidificou, por consequência não há distribuição de renda para a população.
Para complicar ainda mais a situação, os governos totalitários que se sucederam no poder, alçados por voto temerário, por golpes políticos ou militares (comuns na história daquele país), acabaram por matar a própria "galinha dos ovos de ouro" e, a exemplo do pré-sal brasileiro, a riqueza nacional despencou, a falta de credibilidade no país afastou o capital estrangeiro, a moeda nacional perdeu valor, a "pequena Veneza" perdeu o charme e a dignidade.
O que se pode inferir da situação econômica da Venezuela é a fraqueza e a instabilidade das suas instituições democráticas e serve de lição aos demais povos da América Latina: Constituição forte, representatividade política, diversificação da economia e incentivo à iniciativa pessoal, sem essas balizas nenhum país se sustenta, não importa o tamanho, não importam as riquezas naturais, não importam os regimes políticos.
Nesse diapasão, já não existe mais o Estado social, e sim um arremedo deste, cabendo ao homem, no conselho de Hobbes acima exposto, resistir e lutar, se preciso for até a morte!