Uma difícil decisão – As roupinhas (Capitulo IV)
_ Como ela é? Pergunta Ana Lucia.
_ Por que quer saber a senhora acha que essa mulher horrorosa está dizendo a verdade? Grita Carla.
_ Ela é como o nome dela! Um anjo... Responde Júlia depois de alguns minutos.
_ Eu prefiro morrer a ser sua filha... Diz Carla aos prantos, olhando para Júlia com revolta, nojo.
O pai abraça Carla e sai com ela em direção ao quarto. E vai dizendo:
_ Você é minha filha não só perante a lei, mas em meu coração. E olha para traz como se quisesse identificar aquela mulher, mas não consegue se lembrar de onde a conhecia.
_ Por que resolveu nos contar agora? Meu Deus, eu nunca ajudei minha filha... E começa a chorar.
_ A senhora ajudou. Eu vim aqui pedir roupas de bebê e a senhora me deu duas sacolas de roupinha, que foram mais que o suficiente. E eu contei para Angel das roupas e ela passou a orar pela senhora todos os dias desde seus quatro anos.
Ana Lucia se lembrou de que só saiu da depressão que sofria depois do quarto aninho de Carla, agora sabia o motivo...
_ Ela é um presente de Deus, me perdoa por eu ter ficado com o seu presente... Falava Júlia aos prantos.
Depois de um tempo, Ana Lucia perguntou:
_ Você se arrepende do que fez?
_ Todos os dias! Mas não me arrependo porque ela má, malcriada, perversa com as pessoas, me arrependo por vê-la na miséria, sem condições de estudar, sem poder dar a ela sequer um cachorro quente, mas principalmente porque percebia aquele dia no parque o quanto minha escolha foi injusta,.... Eu a amo, mas que tudo e ela têm uns sonhos, com lugares bonitos, com pianos e eu não posso dar nada disso... E quando soube que vocês iam embora....
_ Como soube?
_ Eu fiz amizade com sua empregada, foi a forma que achei para ficar perto e saber noticias da minha filha...
Parou, enxugou as lágrimas e continuou.
_ Foi assim que soube em que parque ir para vê-la. Neste instante Júlia se lembrou do dia horrível que teve.
_ Eu me lembro! Carla teve pesadelos aquela noite com você. Meu esposo ficou preocupado, queria até colocar segurança para nos vigiar...
_ Naquele dia quando cheguei em casa a minha vizinha estava lá e como eu estava chorando ela me perguntou o que havia acontecido e eu disse que uma criança me chamou de horrível, Angel ouviu, pois estava chegando da escola, sabe o que ela fez?
_ Não!
_ Ela correu até mim e me abraçou, deu aquele sorriso lindo e disse “mamãe perdoe essa criança, pois ela não consegue ver a beleza. Você é lindíssima!” Sabe o que fiz?
Ana Lucia balançou a cabeça.
_ Eu chorei mais ainda, porque eu tinha um anjo naquela miséria toda e você tinha... Hesitou um pouco e continuou.
_ Você tinha um monstro na riqueza, onde nada falta...
_ Ela é boa! Disse Ana Lucia tentando buscar as lembranças agradáveis de Carla. Você está enganada.
Houve um silêncio que foi quebrado apenas pelo soluço de Marilda que escutava tudo próximo da porta da cozinha, logo que foi vista pela patroa entrou na cozinha chorando e lembrando que por várias vezes pensou em deixar o serviço, pois Carla era muito cruel. Lembrou-se das cinco babás que cuidou da menina, da pobre Alice que aquela menina acusou de bater nela, se não fosse a patroa seu Carlos tinha colocado a moça na cadeia. Ela agora pensava como teria sido a vida naquele lugar se as crianças não tivessem sido trocadas.
Enquanto isso no quarto de Carla, seu Carlos anda de um lado para o outro tentando pensar numa maneira de prender aquela mulher...
_ Como pode uma pessoa entrar na sua casa e tentar destruir sua família? Estava tão angustiado que nem percebeu que falou em voz alta.
_ Pai! Você não acredita que ela está dizendo a verdade, né?
_ Claro que não! Por isso mesmo vou prendê-la! Disse ele entre dentes.
_ E, o que vai fazer com a moça?
De repente Carlos se deu conta de que havia uma menina de quase quinze anos, que aquela mulher alegava ser sua filha, então uma duvida o assombrou e se fosse verdade... Olhou para a filha a abraçou e disse:
_ Deve ser um golpe! E as duas estão tentando conseguir algum dinheiro, você sabe como sua mãe é boa e adora ajudar as pessoas.
Abraçou mais forte a menina e completou:
_ Provavelmente, essa moça vai fingir um sofrimento e sua mãe vai ajuda-la...
_ Mesmo! Contra a sua vontade e a minha?
_ Eu não vou deixar isso acontecer! Disse ele lembrando-se que a mulher sempre ajudava as pessoas, mesmo sem a permissão dele e muitas vezes fez com que ele ajudasse entidades e pessoas... Neste momento sorriu ao lembrar-se da caridade que ela fez logo que Carla nasceu...
_ O que foi papai?
_ Eu briguei com sua mãe porque ela deu umas peças do seu enxoval para uma pedinte e sabe o que ela me disse?
_ Não!
_ Que você tinha tudo! E que eu jamais deixaria te faltar nada, mas que aquela criança estava nua, e que a gente estava servindo a Jesus. Então fiquei quieto, sai e voltei com mais roupas para você.
Os dois se abraçaram e Carla disse.
_ Mamãe chega a irritar de tão boa que é!
_ Verdade!
_ Mas eu a amo,... E amo você papai... Não quero ser filha daquela mulher... Disse Carla chorando muito.
_ Você não é! Você é nossa filha.
Continua...