Não romantizemos relacionamentos abusivos
Tem-se notado que muitas pessoas idolatram casais da ficção que estão longe de ser saudáveis, como o Coringa e a Arlequina do Batman, um par notoriamente abusivo.Ninguém pode negar o quanto ele a maltrata. Porém, o fato desse casal ter tantos fãs só prova o quanto há gente que acha lindo. E não é apenas esse casal inegavelmente doentio que é adorado, mas muitos mais em que um maltrata e escraviza o outro, o que chama a atenção para um problema: a romantização de relacionamentos abusivos. Nestes relacionamentos, é comum o abuso físico e/ou emocional sendo retratado como ato de amor. Isto apresenta uma visão distorcida do que seja uma vida a dois.
Vários casais por quem o público torce já foram apontados como nada saudáveis por críticos e terapeutas de casais. Isto mostra que se faz necessário que aprendamos a ler livros e a assistir a filmes ou seriados com um olhar mais crítico. Mas o problema é que o comportamento opressor de uma das partes pode ser muito sutil, enganando o leitor ou espectador menos atento. Também não podemos negar que os criadores desses casais podem ser muito hábeis em fazer com que confundamos ciúme patológico com "amor demais" ou críticas negativas com "correção". Entretanto, não podemos nos deixar levar por essa tendência de achar lindo um casal em que um dos componentes - quase sempre a mulher - tem sua liberdade e dignidade restringidas e é continuamente sujeita à agressão e desrespeito.
Muito podem dizer que ficção e vida real são diferentes. Será que dá para ficarmos seguros? Quanto atores que já interpretaram vilões não foram agredidos na rua? Ver o abuso ser mostrado como normal pode realmente confundir a cabeça de quem não tem suficiente senso crítico. É necessário que as pessoas entendam que não é normal que um oprima, diminua ou xingue o outro.
Observemos bem relatos de quem sofreu por longos anos com relações abusivas. Nenhuma pessoa que o viveu consegue ser uma pessoa realizada. A parte que abusa sempre encontra uma forma de nos controlar, podar nossa liberdade e ainda fazer parecer que nós é que não lhe damos valor. Todo aquele que age abusivamente ainda tenta nos manipular para nos fazer acreditar que, sem ele, não temos valor. Ainda por cima, muitos são tão bons manipuladores que só conseguimos perceber que vivemos uma relação de abusos depois termos perdido tempo investindo no que não valia a pena.