Conservadorismo e progressismo

CONSERVADORISMO E PROGRESSISMO

Miguel Carqueija

Uma das maiores falácias do mundo atual é a contraposição entre conservadores e progressistas, que seriam duas tendências opostas e até inconciliáveis. Nesta visão, o termo “conservador” acaba sempre sendo usado em tom pejorativo, e em flagrante desvantagem ante o termo “progressista”. No entanto, não há contradição ou excludência entre os dois termos e, a rigor, é perfeitamente possível — e até desejável — ser ao mesmo tempo conservador e progressista.

Do ponto de vista semântico os dois termos não são excludentes. O antônimo de “conservar” é “destruir” — o que tem isso a ver com o progresso? O antônimo de “progredir” é “regredir” — o que tem isso a ver com conservação?

Salta aos olhos que só pode haver real progresso quando se zela pelo patrimônio — cultural, moral, religioso, cientifico, tecnológico — existente, e que custou à humanidade milênios de sangue, suor e lágrimas. Atribui-se a Isaac Newton a frase “Se enxerguei tão alto, é porque estava nos ombros de gigantes”. Esta frase lapidar poderia ser o paradigma dos conservadores.

Em última análise, só os conservadores podem ser autênticos progressistas. Como você irá progredir na construção de um edifício, se não conservar cada andar que vier a ser construído? Veja-se o exemplo de Walt Disney, um grande conservador-progressista que sempre manteve a pureza básica nas suas criações — onde os valores éticos e artísticos eram conservados — e inovou profundamente o cinema e outras formas de entretenimento, tendo inclusive criado os parques temáticos? Em artigo que publicou na imprensa, e que cito de memória (durante muitos anos conservei o recorte de “O Globo”), Disney declarou que “já produzimos todos os tipos de filmes, exceto os sem mensagem moral”. E assim, conservando valores, ele construiu uma obra coerente, monumental, exemplar e progressista.

Rio de Janeiro, 19 de maio de 2011.