2017 produção de textos. artigos de opinião. cidadão de Moacyr Scliar. Denunciar violência contra mulheres

LÍNGUA PORTUGUESA

www.institutomais.org.br e www.rioclaro.sp.gov.br

Interpretação textual; Significação das palavras: sinônimos, antônimos, sentido próprio e figurado das palavras; Elementos de textualidade: coesão e coerência;

Coesão: advérbio, pronome, conjunções, adjetivos, sinônimos; Regência verbal e nominal; Crase; Ortografia; Pontuação; Acentuação gráfica;

Características dos diversos tipos de texto (gênero): publicitários, jornalísticos, instrucionais, narrativos, poéticos, epistolares, história em quadrinhos.

Conhecimentos Específicos

As concepções de linguagem e o ensino da língua portuguesa; as variedades linguísticas; a gramática no ensino da língua portuguesa;

o processo de leitura, a compreensão e a produção de textos.

O texto: tipologia textual; intertextualidade; coesão e coerência textuais; o texto e a prática de análise linguística Leitura e produção de textos.

Literatura brasileira.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BASSO, Renato; ILARI, Rodolfo. O Português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC /SEF

CHARTIER, Roger. Práticas de leitura. 04 ed. São Paulo: estação Liberdade Ltda, 2009. KLEIMAN. A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1993.

Legislação e Conhecimentos Pedagógicos

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL – 1988. (Artigos 5º, 6º; 205 a 214). BRASIL. LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança do Adolescente-ECA.

BRASIL. LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (anexo o Parecer CNE/CEB nº 7/2010).

BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, DE 17 DE JUNHO DE 2004. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (anexo o Parecer CNE/CP nº 3/2004).

BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, DE 30 DE MAIO DE 2012. Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (anexo o Parecer CNE/CP nº 8/2012).

BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília, MEC/SEESP, 2008. Disponível em: . Acesso em: 18 jul. 2013.

COMERC. Deliberação 01/2013 - Estabelece Diretrizes Curriculares para Educação Ambiental para as instituições Educacionais do Sistema Municipal de Ensino de Rio Claro. Disponível em: http://www.educacaorc.com.br/media/biblioteca/7002024/delib_01_COMERC_2013.pdf

COMERC. Deliberação 01/2015 - Dispõe sobre o atendimento de alunos Público-Alvo da Educação Especial nas Unidades Educacionais da Rede Municipal de Ensino de Rio Claro. Disponível em: http://www.educacaorc.com.br/media/biblioteca/7002036/delib_01_2015_COMERC_AEE_homol_assin.pdf HOFFMANN, Jussara – Avaliação Mediadora – Editora Mediação – 2000.

CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva com os Pingos nos Is. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2005. LA TAILLE, Yves.

DANTAS, Heloisa e OLIVEIRA, Marta Kohl de, Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 24. ed., São Paulo: Summus, 1992.

RIO CLARO. Lei Municipal nº4886/2015. Plano Municipal da Educação. Disponível em: http://www.educacaorc.com.br/media/biblioteca/7001846/Lei%20n%C2%BA%204886%20- %20Plano%20Municipal%20de%20Educa%C3%A7%C3%A3o.PDF

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 33.ª ed. revisada. Campinas: Autores Associados, 2000.

SAVIANI, Dermeval. Histórias das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas; Autores Associados, 2010.

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LUCAS.

No Brasil, devido à falta do ambiente escolar adequado, muitos indivíduos que possuem necessidades especiais são impedidos de frequentar a escola regular. Isso ocorre também com surdos, que se deparam com a ausência de (infraestruturas) estruturas, o preconceito e não acessibilidade no meio escolar. Como consequência desses desafios enfrentados por eles, a formação educacional é comprometida. É a partir do que foi citado, que esse tema é tão pertinente na atualidade.

O artigo quinto da Constituição Federal de 1988 afirma: “Todos são iguais perante a lei.” No entanto, não é o que se presencia no sistema educacional brasileiro acerca dos deficientes auditivos. Eles são barrados antes de entrar nas salas de aula, pois muitas escolas não possuem a estrutura necessária para auxiliar o acesso aos locais. Como, por exemplo, placas sinalisatórias (indicativas) a fim de direcionar o aluno ao destino. Ademais, a maioria sofre do preconceito. Essa aversão é resultado de uma sociedade individualista, a Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, da qual as pessoas atentam-se apenas para os próprios interesses. Em suma, o deficiente auditivo encontra empecilhos para utilizar o estabelecimento escolar, o que gera uma má formação em sua educação.

Como consequência (efeito) dos atos discriminatórios e do descaso estrutural nas escolas brasileiras, muitos surdos desistem de frequentar as mesmas. O número de evasão escolar subiu cerca de 15%, se comparado em 2011. Isso evidencia que os centros educacionais brasileiros não estão aptos a formar educação de qualidade para essas pessoas. Esse pouco caso remete ao pensamento de Sartre, no qual “o inferno são os outros’, pois como é minoria o número de indivíduos portadores com essa deficiência auditiva, a coordenação pedagógica e a sociedade não se atentam em usufluir empenham em viabilizar meios para a inclusão de todos eles. Em síntese, com a falta de comprometimento o pouco compromisso com essa porção da população, muitos surdos saem das escolas por não haver condições e recursos meios de se adequarem à turma em que estão inseridos.

Dessarte, com o descaso estrutural nas escolas brasileiras as negligências e omissões em investimentos educativos, e o individualismo fazendo-se presentes nos dias fatos hodiernos, muitos surdos optaram por não frequentar as escolas as redes de ensino regular, porque pois não há condições para dar continuidade aos estudos. É, por isso, que o governo federal, juntamente com ONGs que combatem o preconceito, deve divulgar, em escolas, nas mídias sociais e em pontos estratégicos das cidades, cartilhas que explicam a necessidade de inclusão de surdos nas escolas. A fim de Tudo isso para melhorar o rendimento escolar desses indivíduos deles e propiciar um ambiente espaço digno para seu desenvolvimento. Só assim, que a população irá conscientizar-se para esse problema que ainda perdura no meio em âmbito social.

Critérios de correção de seu texto.

1. Repetição de:

• descaso (pouco caso, marginalização, repulsa, recursos escassos),

• meio (âmbito), ambiente (espaço), meio (recurso, condições).

• atentam, atentem,

• individuo, individualismo, a falta (quatro vezes, substituir por ausência e não acessibilidade,

• falta = as negligências e omissões em investimentos educativos),

• Como consequência,

• pois,

• a fim de...,

• escola (a escola regular, as redes de ensino regular), coordenação escolar (pedagógica), meio escolar (sistema ou rede de ensino),

2. Concordância:

a). Na introdução: ...frequentalas: frequentá-las: mas, o certo é frequentá-lo (ligado ao termo: ambiente escolar e não escolas). Coesão por anafórica.

... Isso ocorre também com surdos, que se deparam (deparar-se: verbo pronominal) com a ausência (=a falta) de (infra)estruturas...

b). Na conclusão: ... o descaso estrutural nas escolas brasileiras e o individualismo fazendo-se presentes (Quando o descaso estrutural nas escolas brasileiras e o individualismo estão presentes).

3. Pontuação/Vírgulas: Talvez: 07 vírgulas inseridas a mais em seu texto. (..., por isso, ...), (o estabelecimento escolar, o que gera uma má formação), (sujeitos diferentes: Dessarte, com o descaso estrutural nas escolas brasileiras as negligências e omissões em investimentos educativos, e o individualismo fazendo-se presentes...)), (vírgula facultativa: O número de evasão escolar subiu cerca de 15%, se comparado em 2011.), (Como, por exemplo, placas sinalisatórias (indicativas)...).

4. Crase (fusão de letras iguais ou semelhantes): por causa de/ devido à falta do ambiente escolar adequado; ... esse descaso remete à frase de Sartre...

5. Ortografia: a fim de..., empecilho, aversão, em síntese.

6. Impropriedade vocabular: usufluir= viabilizar, dias hodiernos (fatos ou eventos hodiernos (hodierno vem do latim: “hodie”= hoje, agora, neste instante, neste ínterim, fatos diários), indivíduos portadores dessa deficiência auditiva (não se usa mais portadores, apenas deficientes, sujeitos com necessidades especiais como você afirmou corretamente no início de seu texto.) .

7. Neologismo: sinalisatórias = indicadoras, indicativas, sinalizadoras. (pode ser aceito o neologismo, dependendo de quem for o leitor de seu texto na banca do ENEM.).

8. Sugestão: em vez de diz, afirma; evite repetições de verbos e substantivos com o mesmo radical como desenvolver e desenvolvimento, escola e escolar. Fazer sempre a revisão antes de passar a limpo e atenção na hora da reescrita de seu texto. Se precisar, riscar a palavra errada e colocar na frente o termo ou expressão correta. Estudar crase, pontuação, verbos pronominais, coesão e tipos de coesão, conjunções (o computador não aceita Dessarte e sim, destarte, EMBORA AMBAS SEJAM CORRETAS, POUCO USADAS – MAIS PRÓPRIAS PARA JURÍDICOS E ERUDITOS.).

Destarte é utilizado para referir o que vai ser mencionado no discurso e dessarte é utilizado para referir o que foi mencionado no discurso. São sinônimas de: assim sendo, à vista disso, consequentemente, em vista disso, então, isto posto, logo, pois, por conseguinte, por consequência, por isso, portanto, entre outros.

No âmbito sintático, atuam como conjunções coordenativas conclusivas, ligando duas orações numa relação semântica de conclusão ou consequência.

Exemplos:

• A empresa passou por uma grande instalibidade financeira. Destarte, se forem necessárias novas reuniões para discutir este assunto, todos deverão comparecer nas datas marcadas.

• O caso foi bem apresentado pelos advogados. Destarte, temos confiança que teremos uma sentença positiva.

• Houve uma má organização desse processo jurídico e tivemos falhas em tribunal. Dessarte, foram novamente lidas e analisadas todas as evidências.

• A escassez de recursos está se tornando preocupante. Dessarte, serão necessárias novas campanhas de angariação de bens.

FONTE: https://duvidas.dicio.com.br/destarte-ou-dessarte/

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Silêncios e gritos na rua, lugar de todos e de ninguém.

J B Pereira – 17/10/2017

A rua foi palco de conquistas histórias depois de exigir “Diretas-Já” (fim da ditadura no Brasil) e depor o Collor do poder. Por muito tempo, a rua foi o refúgio de pessoas marginalizadas, hoje é marcada pela violência e o medo cada vez maior.

Sabe-se que, historicamente, as crianças abandonadas tiveram maior número após a proclamação da abolição em 1888, porque os negros foram abandonados pela sociedade formando os cortiços e favelas.

E isso aumentou com os tempos atuais, maior concentração de drogas e prostituição. Recentemente, Dória, prefeito de São Paulo, quis acabar com a Cracolândia sem sucesso, porque faltou articular saúde à segurança pública e identificação de grupos de comercialização de substâncias ilícitas.

Enquanto o país está sendo visto pela hipercrise e os desmandos da corrupção política, a educação continua sucateada pelo Estado e a possibilidade de emprego em níveis lamentáveis. Se não houver uma mudança de mentalidade política e investimentos responsáveis na infraestrutura do país e na educação, a nação continuará patinando em declive negativo e os resultados retóricos de um Brasil a lutar por sobreviver a cada dia ante aos efeitos da globalização e políticas neoliberais.

“Punir e vigiar” a juventude sem dar-lhe a competência para forjar um presente audacioso e eficiente é comprometer o porvir do próprio país, inexoravelmente. Nem sempre o silencio das ruas ou o panelaço podem ser instrumentos políticos de descontentamento em si; os gritos são de cansaço e desespero, indignação e revolta.

Ir à rua representou para a classe popular e média a busca de condições éticas e econômicas de vida digna e revanche ou reprovação à politicagem que engorda os donos do poder à medida que manipula a população anestesiada pela mídia ou controlada pela força de policiais submissos à máquina administrativa ineficiente e obtusa em “ouvir às ruas”.

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O nascimento de um cidadão

Autoria: Moacyr Scliar é médico e escritor, falecido.

FONTE: http://redeglobo.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-4121-2-64454,00.html

Para renascer, e às vezes para nascer, é preciso morrer(PARADOXO), e ele começou morrendo. Foi uma morte até certo ponto anunciada, precedida de uma lenta e ignominiosa agonia. Que teve início numa sexta-feira. O patrão chamou-o e disse, num tom quase casual, que ele estava despedido: contenção de custos, você sabe como é, a situação não está boa, tenho que dispensar gente.

Por mais que esperasse esse anúncio – que na verdade até tardara um pouco, muitos outros já haviam sido postos na rua – foi um choque. Afinal, fazia cinco anos que trabalhava na empresa. Um cargo modesto, de empacotador, mas ele nunca pretendera mais: afinal, mal sabia ler e escrever. O salário não era grande coisa, mas permitia-lhe, com muito esforço, sustentar a família, esposa e dois filhos pequenos. Mas já não tinha salário, não tinha emprego – não tinha nada.

Passou no departamento de pessoal, assinou os papéis que lhe apresentaram, recebeu seu derradeiro pagamento, e, de repente, estava na rua. Uma rua movimentada, cheia de gente apressada. Gente que vinha de lugares e que ia para outros lugares. Gente que sabia o que fazer.

Ele, não. Ele não sabia o que fazer. Habitualmente, iria para casa, contente com a perspectiva do fim de semana, o passeio no parque com os filhos, a conversa com os amigos. Agora, a situação era outra. Como poderia chegar em casa e contar à mulher que estava desempregado? A mulher, que se sacrificava tanto, que fazia das tripas coração para manter a casa funcionando? Para criar coragem, entrou num bar, pediu um martelo de cachaça, depois outro e mais outro. A bebida não o reconfortava, ao contrário, sentia-se cada vez pior. Sem alternativa, tomou o ônibus para o humilde bairro em que morava.

A reação da mulher foi ainda pior do que ele esperava. Transtornada; torcia as mãos e gritava angustiada, o que é que vamos fazer, o que é que vamos fazer. Ele tentou encorajá-la, disse que de imediato procuraria emprego. De imediato significava, naturalmente, segunda-feira, mas antes disto havia o sábado e o domingo, muitas horas penosas que ele teria de suportar. E só havia um jeito de fazê-lo: bebendo. Passou o fim de semana embriagado. Embriagado e brigando com a mulher.

Quando, na segunda-feira, saiu de casa para procurar trabalho, sentia-se de antemão derrotado. Foi a outras empresas, procurou conhecidos, esteve no sindicato, como antecipara, as respostas eram negativas. Terça foi a mesma coisa, quarta também, e quinta, e sexta. Dinheiro esgotava-se rapidamente, tanto mais que o filho menor, de um ano e meio, estava doente e precisava ser medicado. E assim chegou o fim de semana. Na sexta à noite, ele tomou uma decisão: não voltaria para casa.

Não tinha como fazê-lo. Não poderia ver os filhos chorando, a mulher a mirá-lo com o ar acusador. Ficou no bar até que o dono o expulsou, e depois saiu a caminhar, cambaleante. Era muito tarde, mas ele não estava sozinho. Na rua, havia muitos como ele, gente que não tinha onde morar, ou que não queria um lugar para morar. Havia um grupo deitado sob uma marquise, homens, mulheres e crianças. Perguntou se podia ficar com eles. Ninguém lhe respondeu e ele tomou o silêncio como concordância. Passou a noite ali, dormindo sobre os jornais. Um sono inquieto, cheio de pesadelos. De qualquer modo, clareou o dia e quando isto aconteceu ele sentiu um inexplicável alívio: era como se tivesse ultrapassado uma barreira, como se tivesse se livrado de um peso. Como se tivesse morrido? Sim, como se tivesse morrido. Morrer não lhe parecia tão ruim, muitas vezes pensara em imitar o gesto do pai que, ele ainda criança, se atirara sob um trem. Muitas vezes pensava nesse homem, com quem nunca tivera muito contato, e imaginava-o sempre sorrindo (coisa que em realidade raramente acontecia) e feliz. Se ele próprio não se matara, fora por causa da família; agora, que a família era coisa do passado, nada mais o prendia à vida.

Mas também nada o empurrava para a morte. Porque, num certo sentido, era um morto-vivo. Não tinha passado e também não tinha futuro. O futuro era uma incógnita que não se preocupava em desvendar. Se aparecesse comida, comeria; se aparecesse bebida, beberia (e bebida nunca faltava; comprava-a com as esmolas. Quando não tinha dinheiro sempre havia alguém para alcançar-lhe uma garrafa). Quanto ao passado, começava a sumir na espessa névoa de um olvido que o surpreendia – como esqueço rápido as coisas, meu Deus – mas que não recusava; ao contrário, recebia-o como uma bênção. Como uma absolvição. A primeira coisa que esqueceu foi o rosto do filho maior, garoto chato, sempre a reclamar, sempre a pedir coisas. Depois, foi o filho mais novo, que também chorava muito, mas que não pedia nada – ainda não falava. Por último, foi-se a face devastada da mulher, aquela face que um dia ele achara bela, que lhe aquecera o coração. Junto com os rostos, foram os nomes. Não lembrava mais como se chamavam. E aí começou a esquecer coisas a respeito de si próprio. A empresa em que trabalhara. O endereço da casa onde morara. A sua idade – para que precisava saber a idade? Por fim, esqueceu o próprio nome.

Aquilo foi mais difícil. É verdade que, havia muito tempo, ninguém lhe chamava pelo nome. Vagando de um lado para outro, de bairro em bairro, de cidade em cidade, todos lhe eram desconhecidos e ninguém exigia apresentação. Mesmo assim, foi com certa inquietação que pela primeira vez se perguntou: como é mesmo o meu nome? Tentou, por algum tempo, se lembrar. Era um nome comum, sem nenhuma peculiaridade, algo como José da Silva (mas não era José da Silva); mas isto, ao invés de facilitar, só lhe dificultava a tarefa. Em algum momento tivera uma carteira de identidade que sempre carregara consigo; mas perdera esse documento. Não se preocupava – não lhe fazia falta. Agora esquecia o nome... Ficou aborrecido, mas não por muito tempo. É alguma doença, concluiu, e esta explicação o absolvia: um doente não é obrigado a lembrar nada.

De qualquer modo, aquilo mexeu com ele. Pela primeira vez em muito tempo – quanto tempo? meses, anos? – decidiu fazer alguma coisa. Resolveu tomar um banho. O que não era habitual em sua vida, pelo contrário: já não sabia mais há quanto tempo não se lavava. A sujeira formava nele uma crosta – que de certo modo o protegia. Agora, porém, trataria de lavar-se, de aparecer como fora no passado.

Conhecia um lugar, um abrigo mantido por uma ordem religiosa. Foi recebido por um silencioso padre, que lhe deu uma toalha, um pedaço de sabão e o conduziu até o chuveiro. Ali ficou, muito tempo, olhando a água que corria para o ralo – escura no início, depois mais clara. Fez a barba também. E um empregado lhe cortou o cabelo, que lhe chegara aos ombros. Enrolado na toalha, foi buscar as roupas. Surpresa:

- Joguei fora – disse o padre. – Fediam demais.

Antes que ele pudesse protestar, o padre entregou-lhe um pacote:

- Tome. É uma roupa decente.

Ele entrou no vestiário. O pacote continha cuecas, camisa, uma calça, meias, sapatos. Tudo usado, mas em bom estado. Limpo. Ele vestiu-se, olhou no espelho. E ficou encantado: não reconhecia o homem que via ali. Ao sair, o padre, de trás de um balcão, interpelou-o:

- Como é mesmo seu nome?

Ele não teve coragem de confessar que esquecera como se chamava.

- José da Silva.

O padre lançou-lhe um olhar penetrante – provavelmente todos ali eram José da Silva – mas não disse nada. Limitou-se a fazer uma anotação num grande caderno.

Ele saiu. E sentia-se outro. Sentia-se como que – embriagado? – sim, como que embriagado. Mas embriagado pelo céu, pela luz do sol, pelas árvores, pela multidão que enchia as ruas. Tão arrebentado estava que, ao atravessar a avenida, não viu o ônibus. O choque, tremendo, jogou-o à distância. Ali ficou, imóvel, caído sobre o asfalto, as pessoas rodeando-o. Curiosamente, não tinha dor; ao contrário, sentia-se leve, quase que como flutuando. Deve ser o banho, pensava.

Alguém se inclinou sobre ele, um policial. Que lhe perguntou:

- Como é que está, cidadão? Dá para aguentar, cidadão?

Isso ele não sabia. Nem tinha importância. Agora sabia quem era. Era um cidadão. Não tinha nome, mas tinha um título: cidadão. Ser cidadão, para ele, o começo de tudo. Ou o fim de tudo. Seus olhos se fecharam. Mas seu rosto se abriu num sorriso. O último sorriso do desconhecido, o primeiro sorriso do cidadão.

VOCABULÁRIO

crosta: /ô/ - substantivo feminino

- 1. camada endurecida em torno (ou em cima) de uma superfície; casca, côdea, crusta, coscoro.

"c. de pão"

2. medicina: denominação dada à escama que se forma sobre certas feridas por dessecação de antisséptico, sangue e outros líquidos.

Cidadão

– 1. substantivo masculino - Habitante da cidade.

2. Indivíduo que, como membro de um Estado, usufrui de direitos civis e políticos por este garantidos e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos.

Peculiaridade -

substantivo feminino – 1. Qualidade ou condição do que é peculiar; característica de alguém ou de algo que se distingue por traços particulares; originalidade, singularidade, particularidade.

2. Traço peculiar, próprio de alguém ou de algo; característica, modalidade.

O que é atribuído específico de cada pessoa ou coisa. “Timidez, é uma peculiaridade minha.”

Significado de Arrebentado –

1 adj. Que se arrebentou.

2. Fig. Adoentado; extenuado; debilitado. Sem recursos.

Teologia: elevado ao céu, ressuscitado, em êxtase, (visão mística: com Deus e os anjos). “...embriagado pelo céu, pela luz do sol, pelas árvores, pela multidão que enchia as ruas.”

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Denunciar violência contra mulheres

• O que é?

• Quem pode utilizar este serviço?

• Etapas para a realização deste serviço

• Quanto tempo leva?

• Validade do documento

• Legislação

• Outras informações

• Manifeste sua opinião

O que é?

Recebimento de denúncias de violência contra a mulher, orientar e informar sobre ações e políticas da SPM, legislação, direitos, serviços da rede de atendimento à mulher vítima de violência, dentre outros, além de receber e encaminhar aos órgãos competentes as manifestações sobre a temática de gênero, denúncias de crimes contra a mulher, sugestões para implantação e melhoria das políticas e ações da Secretaria, elogios das ações e/ou prestação de serviços, assim como reclamações a respeito da falta ou atendimento inadequado de um serviço.

Quem pode utilizar este serviço?

Cidadãos brasileiros ou estrangeiros no Brasil

Etapas para a realização deste serviço

1 Realizar denúncia

Denuncia, acolhimento, passada informação e reposta a demanda

DOCUMENTAÇÃO

Documentação em comum para todos os casos

• Não é obrigatória a apresentação de qualquer documento

CANAIS DE PRESTAÇÃO

• Presencial:

Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – SCES Trecho 2, Lote 22. Edifício Tancredo Neves, 1º andar, CEP 70200-002-Brasília, DF.

• Telefone: 6133137367

• E-mail: ouvidoria@spm.gov.br

2 Receber resposta às demandas

DOCUMENTAÇÃO

Documentação em comum para todos os casos

• e-mail, telefone

CANAIS DE PRESTAÇÃO

• Telefone: 33137367

• E-mail: ouvidoria@spm.gov.br

• Postal:

Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – SCES Trecho 2, Lote 22.

Edifício Tancredo Neves, 1º andar, CEP 70200-002-Brasília, DF.

Quanto tempo leva?

Entre 16 e 30 dias corridos é o tempo estimado para a prestação deste serviço.

Legislação

• Outras informações

Este serviço é gratuito para o cidadão.

Este é um serviço do Secretaria de Governo da Presidência da República (SEGOV/PR) e atende ao Decreto n° 9.094, de 17 de julho de 2017.

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Enviado por J B Pereira em 16/12/2017
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