PRETAGOGIA

Francisco Nascimento

A Lei 10.639/03, alterada pela Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio é, sem dúvida, um marco divisório no que se refere a política de inclusão, possibilidade de paridade cultural e ação afirmativa; face ao processo perverso aplicado na colonização das américas.

Aplicar a lei pelo resgate da historicidade e das interculturalidades é disponibilizar ou dotar a sociedade de conhecimentos tradicionais da ancestralidade africana e afro brasileira, negados, invisibilizados ou distorcidos pela própria história na educação brasileira, que sempre foi transmitida através dos livros didáticos, também perversos, produzidos por brancos que nunca demonstraram interesse em compartilhar esse conhecimento ou que, simplesmente, tentaram reduzir as africanidades em legados desnecessários, cultura inferior, sempre subalternizada ao domínio eurocêntrico, fazendo prevalecer o processo social do branqueamento. Sim, branqueamento pela criação de padrões estéticos e epistemológicos de natureza racista, capaz de silenciar (ou tentar) vozes negras.

A Pretagogia surge a partir do ideal de luta por igualdade e justiça, cumprindo o seu papel de implantar um olhar atento para a diversidade, incluindo os sujeitos e seus coletivos, contextualizando a cultura africana como legado social na formação do povo brasileiro, rompendo com o silêncio agonizante dos livros didáticos que só retratam o povo negro como submisso, trabalhador braçal, escravizado, desprovido de pensar e inteligência, com religiosidade expurgada e vestes grosseiras... pensar a educação pelo prisma de autores e autoras negras é definir um novo padrão político de ensino, capaz de cumprir o papel previsto pela Lei 10.639, de revisar os currículos, ensinar a cultura e a história de África, já que por força do racismo estruturante e institucionalizado, esses ensinamentos foram negados a inúmeras gerações, mesmo que digam: isso é coisa de pretos. Sim, é coisa da gente que deu origem a todas as gerações do mundo ocidental, mas mesmo assim, não teve o seu lugar de destaque reconhecido, nem na Europa, nem nas suas colônias, portanto, Pretagogia para reeducar as cabeças e fortalecer as lutas contra o preconceito racial, epistemicídios e o genocídio.