Vontade de Potência
"Alguns nascem póstumos, talvez tu sejas uma dessas almas errantes a sonhar a vida para além do seu tempo, nas asas da arte e da poesia." (Fiódor)
Muito cedo eu descobri que não sou princesa, sou guerreira! Que minha armadura é a poesia e minha arena de luta é a vida.
Muito cedo descobri que, mesmo não sendo princesa, ainda tinha o direito a sonhos. Que meu príncipe chegaria sim, de ônibus, moto, táxi, avião ou até em um pau de arara, exceto montado num cavalo branco.
Muito cedo também descobri que não sou o sexo frágil, que sou o oposto disso, que minha força se agiganta na mesma proporção do obstáculo. Posso tudo que eu me dispor a fazer. E te digo mais: eu sei fazer muito bem feito.
Muito cedo descobri que posso ser mulher, filha, irmã, amiga, esposa, mãe, profissional, e o que é melhor, que posso ser boa em tudo isso, sem que seja necessário abrir mão de nenhum desses papéis. Mas que, se fosse necessário abrir, ser mãe seria minha prioridade.
Muito cedo aprendi que meu corpo me pertence; que, com ele, eu posso fazer qualquer coisa; que, nesse meu templo sagrado, só toca quem eu permitir; que, se existe pecado, não é aqui que ele mora; que ele é casa do meu espírito, como tal eu posso e devo enfeitá-lo como eu bem quiser, exceto com laço de fita rosa no cabelo, por que isso é coisa de princesa.
Desde cedo aprendi que, dentro de mim, mora um Deus, talvez diferente do seu, mas é dessa energia quase, divinal, que vem toda a força que eu preciso pra manter minha vida sempre em movimento. Aprendi também que a vida dói, porém ainda assim é minha maior fonte de prazer. Pra toda dor há remédio, isso foi avó que me ensinou.
Muito cedo aprendi minha primeira lição de respeito: meu direito termina onde começa o seu e vice versa. Que delicadeza, gentileza, empatia, amor e gratidão são exercícios que devem ser praticados diariamente. Que o amor existe e sem, ele, a vida se torna, insuportavelmente, enfadonha. Que o maior de todos os crimes é se permitir morrer ainda em vida.
Desde muito cedo aprendi que igualdade é um direito que só será adquirido o dia em que percebermos que, apesar de únicos, somos todos diferentes.