Silvio Santos e Zé Celso: Tragédia Humana
Parte I
Uma violência acontece novamente, e diante dela, ajuizamos mais uma vez que o poder da arte não pode cessar na sua função de educar e explorar os sentimentos, pois, a partir de um vídeo onde aparentemente 250.000 pessoas estão jogando pedra em "Maria Madalena ou melhor, Zé Celso: artista", é possível pensar que a era da Selvageria retorna ao seu ciclo comum de brutalidade no mundo de Tragédia, Horror e arrependimento tendo este último, função purificadora atribuída a arte na catarse.
A expressão no rosto de um rapaz que comenta sobre um vídeo a respeito de uma briga por um terreno para fins da arte ou de empreendimentos imobiliários é a mesma daquele que desconhece os efeitos da arte, selvagem e rústica, digna de um barbaro que incita outros selvagens a agirem com e como se fossem pedras, esperando o vento e rolando para satisfazer sua intempérie, quase sempre maculada para causar tempestades.
É realmente deprimente o estado em que chegamos como humanidade, mantendo e criando luxo no mundo dos gladiadores, exatamente como outrora, salvo exemplo da Antiguidade. Peço então ao Silvio Santos que fique esperto, pois, os tolos quando criam impérios, além de trazer o caos para si, também replicam a sua volta, como um vírus, que no fim só preza pela sua sobrevivência, quase sempre descontrolada e retrógrada para um idealista, e para um evolucionista ou um poeta, da tragédia humana necessária.
Então que venha a era dos brutos para que, após a tragédia possamos representar na arte, ciclo do caos que depende da técnica dos poetas para possibilitar a fuga do espírito, consciência e por consequência, nova calmaria.
Parte II
É por tudo isso que dizemos que a arte resgata o Selvagem na imagem que dá na tragédia, pois, é relembrando o que a raiva causa que certa consciência opera. Isto é, digamos que o juízo tem função não somente de operar a ciência, mas, por outro lado e muito mais importante, função de limitar a explosão generalizada no Humano. Porém, se pensamos na arte como uma trivialidade, é certo pagarmos um preço por termos tantos sentimentos presos.
E de outro modo, se este bruto não vê na corrente de raiva a tragédia, se não aprende buscando ver na dor do outro a compreensão - uma das funções demonstrativas da arte -, o oprimido se rebela e o tirano aparece. Depois há arrependimentos, pois, nem sempre evitam-se as tragédias por não perceberem que decisões particulares atingem o Universal.
Esse fenômeno do bruto quando aparece numa corrente, em suma potencializa outras tragédias, pois, é na sequencia da dor Social que se dão novos aconselhamentos, ao mesmo tempo que é a partir da Tragédia que novos ciclos humanos se fazem necessários. Por essa via, a Idea do bem útil na arte só poderá servir a Humanidade como farmaco, - remédio que tem como missão curar a dor e fazer reinar novamente a calmaria entre os homens -, do contrário, restará apenas a ilusão do animal racional, pronto para agir conforme inclinações, lamentavelmente tiranas e trágicas.