O PERDÃO
Quando apertamos a mão de alguém, recebemos apenas a autorização singela de conhecer a parcela exterior de sua personalidade, o seu eu social, o eu público, apenas a superfície do ser.
Porém, quando alguém nos permite adentrar à sua alma, trata-se de uma concessão privilegiada que exige de nós cuidado e reverência, qualquer gesto brusco ou palavra áspera pode ferir uma alma para sempre.
Por vezes suportamos aguerridos as mais contundentes armas dos inimigos, mas sucumbimos frágeis a pequenas ferpas daqueles que permitimos habitar em nosso universo íntimo.
Por isso a traição dói tanto, porque somente o amor pode ser traído. Os demais sentimentos não penetram tão profundamente em nosso ser.
Todavia, porque tememos a solidão da alma, abrimos as portas e até convidamos outras a que venham a nós, e trazemos conosco a expectativa de que esta também nos acolha e abrigue o nosso amor.
Porém, quando somos feridos em um nível tão profundo, existe apenas um instrumento capaz de estancar o sangramento, e este está também em nós e se chama perdão.
Como este poderoso instrumento está em nós, ele não depende de petição ou de arrependimento, tampouco da reparação do erro, mas trata-se de atitude pessoal, unilatetal e dadivosa daquele que o concede.
Quando perdoamos ao outro, curamos primeiramente a nossa própria ferida e damos ao outro a oportunidade de viver em paz.
Por isso Jesus disse aos discípulos, dou-vos a minha Paz; a Paz advinda de um perdão incondicional e irreversível.
Perdão é a liberalidade que gera liberdade.