Vocês gostam de doce?

Sempre gostei de leituras. Mas com moderação - excessiva, por vezes. A primeira palavra que me ocorreu desbruncar, em período pre-escolar, foi SINGER, grafada em ferro fundido junto ao pedal da máquina de coser, que era tanto usada por mamãe ou papai. Acho que mana La Toya ajudou-me naquela empreitada.

A cartilha da infância, adotada no primeiro ano escolar do José Lima Guimarães, o grupo do povoado do Brumado e de seu bem feitor, não me despertou muito entusiasmo. Gostava mais era de ficar folheando uns poucos mas bem mais interessantes exemplares de Chácaras e Quintais que o tio Leopoldo havia colhido em um curso na escola agrícola de Viçosa e doado a papai. Se sabes o que é a salsa-caroba manacá ou alguma coisa sobre a postura das galinha langhorn é sinal de bebeste da mesma fonte, ainda que não precisaste de ter um tio empreendedor como Leopoldo.

Nesse meio tempo cheguei a conhecer também o que era um dicionário, oba espessa e preciosa que papai havia ganho num programa de rádio, alguns almanaques que as farmácias distribuíam - de graça, e gracejos -

o livro de cabeceira de mamãe Alma Infantis, que trazia ilustrações de Luiz Sá, que pra lidar com petizes ensinava mais que a Bíblia, as revistas O Sesinho, essas sim, coloridas em parte, que faziam a alegria durar um mês inteiro - até a chegada da próxima, e as bulas e burlas de remédios, onde geralmente os lombrigueiros eram os mais conhecidos, e temidos.

Até que Lili apareceu na minha vida, já na segunda metade do primeiro ano primário em 1958, assim que desembarcamos da carroceria dum caminhão em Pitangui. Vocês gostam de doce?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/11/2017
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