O TORÇO, O PANO DA COSTA E OS ADEREÇOS

O uso constante das baianas afrodescendeste na Bahia até o princípio do século 20.

O TORÇO: "Seja de origem portuguesa, conforme presumimos, seja de origem africana, através dos pretos maometanos, como também, razões para se admitir, o turbante do traje das baianas veio até nossos dias em várias regiões do país, com especificação na Bahia".

Mais de uma razão leva a crioula a conservar a cabeça protegida graciosamente com um torço. A primeira razão será sem dúvida a de resguardá-la contra as inclemência do sol tropical, contra o sereno e contra a chuva; é a razão de ordem higiênica. Mas há também razões de ordem religiosa, que são muitas, e das quais bastará citar apenas uma para se fazer ideia de sua importância. Realmente, como senão com um turbante poderia sair a rua a filha de santo (abian) que por isso está com a cabeça raspada?

Filhas de santo antigas falam em que havia um modelo de torço para

cada uma das diferentes etnias radicado na Bahia, e principalmente em Salvador e Recôncavo; Torço gêge, torço Ketu, torço ijexá, torço angola, torço congo, torço háussa em cerimônia cobria o rosto, torço

mina, torço bantu e etc. Também falam numa correlação entre o tipo de torço e a posição da pessoa dentro do culto, ou de relação entre o torço e a divindade "Órixá" a que se está consagrado. Tal analogia abrangeria tanto o formato do pano como o seu colorido e o modo de amarrá-lo."(Fonte extraída do livro: "O Torço da baiana" desenho de Caribé e texto de José Valladares) publicado em 1952-Ba.

Esse hábito com o Torço é ancestral, fortemente usado em Salvador e

cidades do recôncavo no passado não somente por causa do culto Candomblé mas no seu dia a dia, dentro da casa e fora da casa era usado normalmente, principalmente por vendeiras além do torço conservavam uma rodilha de pano para apoiar o tabuleiro de mercadorias, lata de água, trouxa de roupas e outros objetos.

PANO DA COSTA OU MANTO: Também de uso ancestral, faz parte da indumentária das filhas de santo no Candomblé. No passado era com

pano de algodão grosso, listrado em cores, tamanho e largura variável, jogado no ombro esquerdo ou direito preso as duas extremidades abaixo da cintura ou todo amarrado em volta da cintura.

Esse "Pano" tinha por finalidade amarrar o filho nas costas em transporte ou cobrir as suas costas quando necessário. A maneira do uso caracterizava o seu étnico. Pano da Costa assim chamado por ser de origem de Costa da Mina e Costa de Ouro regiões da África. Como também, interpretado por historiadores do nosso passado como "pano usado nas costas".

ADEREÇOS: Tem suas conotações no sincretismo e nas superstições enraizado no escravo vindo da África para o Brasil. Principalmente nas mulheres em uso no seu "balangandã" em dias de festa. Eram comuns

os adereços das baianas chamadas do "partido alto". Usar colares, pulseiras, brincos e vários amuletos chamados de Figa, Pão de Angola,

cilindros reservados para folhas em fragmentos: guiné, manjericão e

pó de pemba os mais usados. Como também, outros objetos da superstição, sinos, cágados, coração, mão dadas, cachorro, carneiro, pomba, romã, chave, moeda, o sol, peixe, tambor, pandeiro, meia lua,

moringa e algumas frutas. Tudo confeccionado em prata ou ouro em tamanho miniatura dependendo do poder financeiro e desejo do seu Órixá. Mesmo aquelas que não eram filhas de santo usavam para a sua proteção.

Na realidade, a escrava vinda da África não trazia nada que não fosse a roupa do corpo e os homens uma simples tanga. Anos depois da carta de alforria, elas conseguiram através do seu comércio ambulante

guardar alguns vinténs e praticar a sua seita tão combatida pela Igreja

e o povo Católico.

Os homens escravos rebeldes tinham seus adereços de comunicação,

usavam cavanhaque, búzios na corrente pendurado na algibeira e não se misturavam com outras etnias.

CACHIMBO: Havia vários formatos e eram confeccionados em barro cozido (cerâmica), madeira, chifre de animais, raízes de árvore e etc.

Havia o comércio do cachimbo, fabricado aqui por escravos e índios.

Como também, vindo da Europa cachibos de várias procedências.

Era comum ver nas ruas, mulheres e homens trabalhando ou não com

o cachimbo no beiço a tragar o fumo pilado. Negros, índios e brancos tinham esse hábito porque na Bahia havia o cultivo do fumo para exportação de boa qualidade.

O cachimbo faz parte do ritual sagrado dos povos ameríndios significando para algumas culturas a união do mundo terrestre (representado pelas folhas) como o celeste (representado pela fumaça). Também existe nos cultos africanos o uso do cachimbo em

que a fumaça tem efeito místico.

DANÇA: Os escravos africanos, forros e livres manifestavam-se suas dores no canto, na música e na dança; Bangulê-dança com os pés e sapateados. Catugejê - dança com música. Eram muitas as canções populares quando reunidos em circulo, geralmente tinha dança ou capoeira, comum ouvir está canção popular: Bamba sinhá

Bamba querê

Bamba obá

Catugejê.

Quando não havia instrumento musical, eles faziam o compasso batendo as mãos uma na outra juntamente com os pés, provocando assim o som desejado. No ritual do culto o som dos atabaques é um

chamariz a dança que expressa aos seus órixás. O samba tão brasileiro hoje é de origem dos escravos brasileiros chamados "crioulos" nascidos no Brasil.

No livro de Edson Carneiro - "Samba de Umbigada" publicado em 1961

Ele esclarece as danças com instrumentos em várias etnias:Quizomba

dança de pares, origem congolesa. Tambi - dança de funerais, congolesa. Cafuinha - dança com facas. Lambarê - dança em circulo de homens e mulheres com pés descalço a bater no chão. Landú - dança

remexendo os quadris com os corpos colados. Batucar, fazer som com os instrumentos percussão. Zambê - pequenos tambores. Bambelô - dança de coco. Na Bahia as danças mais conhecidas são: Samba de Roda, Corta-jaca (separa-o-visgo, apanha o bago) corrida, samba miudinho.

NOTA COMPLEMENTAR SOBRE A ESCRAVIDÃO NO BRASIL.

(OPINIÃO DO AUTOR).

O escravo africano veio para trabalhar na terra e fazer riqueza ao homem branco colonizador. A escrava africana também participou do cultivo da cana de açúcar, algodão e fumo. Mais ativamente na cozinha da sinhá e dos cuidados fraternos dos sinhozinhos, mesmo quando o seu filho não recebia o carinho materno. Ele era posto na senzala ou ficava embaixo da mesa esperando os restos de comida. Só quando estava acima dos seis anos e já trabalhava e brincava com os filhos das sinhás. Mas não conhecia as letras do Português como forma de

desenvolvimento. O dominador branco, senhor de Engenho, não aceitava o negro letrado e tinha ódio dos Malês que eram islâmicos, letrados já dominava a arte de fazer ferramentas e aspiravam a liberdade. Os escravos eram alegres e tristes quando necessário e revoltados pelos castigos das chibatas e outros instrumentos de torturas. Homens e mulheres marcados pelo peso do preconceito brutal do branco que achava o negro inferior, igualando ao animal de carga, não entendia que na sua veia corria a mesma cor de sangue.

O grito de liberdade durou mais de trezentos anos para ser realidade

e quando puderam gritar já a maioria eram velhos, doentes, aleijados, mendigos e analfabetos. Houve poucos que retornaram a sua pátria e pouquíssimo chegaram as letras e conseguiram entrar na Faculdade,

mesmo assim, com ajuda de abolicionista e muito sofrer. Triste passado dos meus ancestrais. Justiça chegou tardio para uma causa tão nobre e humana. Que jamais poderá ser esquecido.

Hoje vivemos em clima de reparação que não faz a realidade. Os descendentes dos quilombos, hoje, vivem com medo de alguém tomar as suas terras. Os afrodescendentes ainda sofrem com os preconceitos

verbais quando não é brutais, mesmo com Leis de Proteção.

As Faculdades criaram COTAS mostrando com isso uma separação de cor e desigualdade social. No meu pensar ainda não conseguimos ser livres.

A Bahia é meu berço, vivo do cheiro do mar, do sol forte da visão sempre constante das Igrejas e dos Fostes tristes, solitários, ainda em pé só para mostrar que um dia alí ele deu tiros de canhão. Os torços os balangandãs não os vejo. A tradição é o povo que faz e se não continuar cai no esquecimento. Mas tem a História para contar o que teve vida.

Batacoto

batacoto
Enviado por batacoto em 25/06/2017
Reeditado em 25/06/2017
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