Os conselhos do Conselheiro Acácio

OS CONSELHOS DO CONSELHEIRO ACÁCIO
Miguel Carqueija



— Conselheiro Acácio, como o senhor explica essa espantosa crise política, econômica e social que golpeia o Brasil?
— Porque além de política, econômica e social ela é também uma crise moral e espiritual. Uma nação sem Deus, sem valores éticos, não pode dar certo. E Deus está sendo cada vez mais alijado no mundo moderno, inclusive no Brasil.
— Mas e os nossos políticos? O que explica que tenham levado o país a esse abismo sem fundo?
— Porque os políticos brasileiros não valem nada, essa é que é a verdade.
— Mas, todos eles?
— Existem é claro excessões que quase podem ser contadas nos dedos. Aliás existem políticos que são bons até certo ponto mas que aceitam muitas das premissas erradas que norteiam infelizmente a política brasileira. Não se trata somente da corrupção, das propinas. O simples fato de existirem mordomias já é um fenômeno altamente preocupante. Tendo em vista que grande parte do povo vive na miséria ou à beira dela, e os serviços essenciais são tratados com desprezo pelos poderes públicos (como é o caso da área médica e da educacional, para não falar do caso crítico da segurança), as mordomias representam uma sangria injusta e que poderia ser evitada. Bastaria proibir as mordomias por emenda constitucional.
— Há quem diga que as mordomias representam pouco em relação às necessidades do país e que extingui-las não resolveria...
— Isto não passa de falácia. As mordomias representam valores elevadíssimos e o fato é que um parlamentar, por exemplo, recebe delas, isto é, do supérfluo, valores bem maiores ao que os pobres contam para o estritamente necessário. E mesmo que haja rombos e buracos piores que as mordomias, o fato é que elas são caminho aberto para as propinas, visto que os políticos ficam mal acostumados e já não se contentam com limite algum, ainda que não possam levar um centavo para a outra vida.
— Então o que o senhor sugere?
— Ao invés das reformas previdenciária e trabalhista, que irão mexer com quem já ganha pouco e vive aos trancos e barrancos, é necessária a reforma política para que nenhum deputado, senador ou vereador, receba de graça moradia, transporte, motorista, franquias postal e telefônica e todos os demais absurdos pelos quais eles acabam nada gastando do próprio bolso. E, claro, é preciso estabelecer leis mais rigorosas para com esses mega-empresários que participam ativamente do ambiente de corrupção. Quanto às delações premiadas, elas no máximo deveriam servir para pequenas reduções de penas, jamais para permitir a impunidade, e que empresários venais possam fugir para o exterior sem punição, sem processo, apenas pagando uma multa que não ajudará o povo e representa apenas uma fração do prejuízo que eles causaram.
— Para finalizar, Conselheiro, que conselho o senhor tem a dar ao eleitorado brasileiro?
— Que aprenda com a dura experiência. Há mais de duas décadas o Brasil vive sob o poder compartilhado de três grandes partidos que o levaram para o caos e o abismo. Sei que é difícil distinguir os candidatos confiáveis, mas dois critérios iniciais podem ser seguidos:
1) Evite votar em quem fala “politiquês”. Com um pouco de treino pode-se facilmente distinguir o político que tergiversa, que enrola, que mente, daquele que fala claramente, põe o dedo nas feridas e não teme enfrentar a verdade.
2) Não vote mais nesses três grandes partidos que arruinaram o país desde os anos 90: o PT, o PMDB e o PSDB, que desde aquela época dividem o poder. Já mostraram a que vieram. Votem em candidatos de outros partidos, que esta providência já irá ajudar muito.
Rio de Janeiro, 21 de maio de 2017.




NOTA: o Conselheiro Acácio é personagem criado pelo escritor português Eça de Queirós no romance "O primo Basílio". Sua característica principal é falar o que de per si é óbvio.