JOÃO E ROSANE
João acordou. São três horas da noite e ele não sabe. Levantou da cama, ligou a luz, olhou as paredes em volta, bocejou, e atirou-se novamente a cama. Ergueu a cabeça apoiando-a na mão. Parou minutos fitando o canto do quarto: solidão.
Os intervalos amargos e maciços entre seus sonhos agitados trazem saudades de Rosane. João perde-se na insônia e beija o vácuo que Rosane deixou. É um beijo suave, com gosto de tristeza, saudades e esperança.
Procura a carta que escreveu a Rosane e não mandou; desdobra-a e o barulho do papel se perde na imensidão do silêncio.
João balbucia as palavras em voz rouca e baixa.
Rosane. Faz tanto tempo que procuro maneiras para dizer-te de meus sentimentos, faz tanto tempo que procuro parar de sonhar acordado que hoje resolvi dizer-te que: TI AMO. Talvez me tenha apenas como amigo, e estranhes receber de mim uma carta de amor. Mas não suporto mais viver calado, com duas palavrinhas sufocando minha garganta e na alma um medo enorme de dizê-las a você. Rosane quero saber se o que sentes por mim também é amor... Mas se tua resposta for negativa responda-me por carta para não notares meu desalento. Tchau! João.
João terminou de ler e ficou olhando letra por letra de seu manuscrito. Não na procura de erro ortográfico, nem na avaliação da letra, procurava apenas a certeza de envia-la ou não. E mais uma vez João dobrou a carta, abriu a gaveta e guardou. Tomou um copo de água, desligou a luz, deitou e dormiu pensando em Rosane.
ROSANE
Regato manso de águas cristalinas
Onde a meiguice veio encalhar
Saudades deixas a quem te conhece
Andando livre em direção ao mar
Nascestes pura, bela te fizestes
E queira Deus assim te conservar.