Zé que se chama Antonio.

Todos os dias mais ou menos no mesmo horário recebo uma visita em meu trabalho.

Ele chega de bicicleta e sempre sorrindo,muito humilde me pergunta como estou,se está tudo bem... Mas hoje ele chegou diferente,não deixou de sorrir, estava doente e muito cansado. O ajudei a se sentar,dei-lhe uma água fresca e começamos a conversar,perguntei o que tinha acontecido,já que chegou ali quase desfalecido...

O Zé como era chamado,então me contou que ficou viúvo no ano passado e que tinha a responsabilidade de três filhas pra cuidar,que com sua bicicleta recolhia materiais para reciclar. Mas que nada tinha comido ainda e que já não podia em pé ficar,na mesma hora um salgado bem quentinho coloquei em sua frente e o vi saborear. E então continuamos a conversar. Ele me disse que tinha ido ao NS (INSS) e que logo receberia pensão,tudo melhoraria então,que seu barraco não ficaria mais cheio de fumaça e carvão. Que o gás tinha acabado desde o dia sete e num fogão a lenha rente ao chão é que cozinhava sua filha menos pivete.

Disse também que a última ventania destelhou metade de seu barraco e que ele cobriu com uma lona e prendeu com uns cavacos,enquanto falava sorria,e tinha um olhar de paz que só quem tem alma pura irradia. Estendeu a mim sua mão e me entregou um documento que atestava ser a pensão seu merecimento,e que além de todo seu relato ,pelo barbeiro tinha sido picado...Lí o nome no resultado e bem depressa falei de coração aliviado:

-Zé! Aqui está escrito que o paciente se chama Antonio!Não é você! Graças a Deus!

Ele segurou minhas mãos e sorrindo me falou:

-Sou eu sim ,meu nome é Antonio,mas me chamam de Zé,eu não ligo,em todo lugar que eu vou é assim... Olha o que ganhei hoje!Um cobertor e uma cesta básica! Podem me chamar de Zé...

Não agüentei e comecei a chorar e um abraço bem apertado eu tive que lhe dar,entre feliz e assustado ele ficou a me olhar.

Olhei bem nos seus olhos e lhe falei:

-De hoje em diante pelo nome de Antonio é que te chamarei!

Quero que saibam que eu já conhecia o Antonio e nem imaginava que por tanta necessidade ele passava, tal era a alegria que sempre demonstrava e agora quando pensar em me entristecer,da história do Antonio eu me lembrarei...